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      Fortalecimento da extrema-direita na Alemanha foi impulsionado pela crise dos refugiados, afirma Merkel

      Ex-chanceler reconhece que abertura das fronteiras em 2015 fortaleceu a AfD, mas defende decisão como "humana e correta"

      Angela Merkel (Foto: REUTERS/Michele Tantussi)
      Luis Mauro Filho avatar
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      247 - A ex-primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, admitiu que a decisão de abrir as fronteiras do país para refugiados em 2015 contribuiu para o fortalecimento da AfD, partido de extrema-direita alemão. A declaração foi feita em entrevista à emissora pública ARD, que nesta segunda-feira (25) lançou um documentário sobre a crise migratória e seus desdobramentos. A reportagem foi inicialmente publicada pela Folha de S.Paulo.

      “Isso certamente fortaleceu a AfD. Mas seria motivo para eu não tomar uma decisão que considero importante, correta, sensata e humana?”, afirmou Merkel, reforçando que não se arrepende do gesto que marcou sua gestão em meio à maior crise de refugiados desde a Segunda Guerra. Na época, sua frase “Wir schaffen das” (“Vamos conseguir”) simbolizou a abertura do país a milhares de pessoas que fugiam da guerra na Síria.

      Merkel e a crise migratória

      Em 2015, a então chanceler descartou a possibilidade de expulsar os solicitantes de asilo, alegando que seria incompatível com os valores humanitários da Alemanha. Segundo ela, “muitas pessoas não queriam que sua dignidade fosse traída” e, inicialmente, a população recebeu os refugiados com flores e garrafas de água nas estações de trem.

      O clima de acolhimento, no entanto, durou pouco. Episódios de violência envolvendo imigrantes ganharam destaque no noticiário. O mais emblemático ocorreu em 2016, quando um tunisiano, após ter o pedido de asilo negado, roubou um caminhão e matou 13 pessoas ao invadir um mercado de Natal em Berlim. O ataque foi reivindicado pelo Estado Islâmico.

      Ascensão da AfD e a resposta de Merz

      Uma década depois, a AfD passou de legenda nanica a força política que rivaliza com a CDU, partido do atual premiê Friedrich Merz. Em algumas pesquisas, a extrema-direita já ultrapassa a sigla conservadora. “Hoje sabemos claramente que não conseguimos alcançar o objetivo que ela tinha em mente à época”, criticou Merz no mês passado.

      Mesmo com dados recentes que mostram integração crescente dos refugiados — 64% empregados e 5% autônomos em 2024, próximos da média nacional — a percepção pública segue negativa. Políticos populistas têm atribuído a imigrantes o aumento do custo da habitação, embora estatísticas indiquem que os aluguéis sobem menos em áreas que receberam mais refugiados.

      Eleições e o discurso anti-imigração

      Nas eleições parlamentares de fevereiro, a AfD obteve sua maior bancada, consolidando-se como a segunda força do Parlamento. Merz, pouco antes da votação, chegou a aprovar uma moção anti-imigratória com apoio da AfD, provocando forte reação social. Milhares foram às ruas contra a ascensão da extrema-direita, mas o partido acabou conquistando quase um quarto do eleitorado.

      A colíder Alice Weidel, apoiada publicamente por Elon Musk, Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, e J. D. Vance, defendeu durante a campanha a chamada “reimigração” — termo usado como eufemismo para deportações em massa.

      Populismo europeu e os desafios da integração

      Especialistas apontam que o discurso contra imigrantes se tornou um instrumento central do populismo europeu, obscurecendo debates mais complexos sobre a falta de mão de obra qualificada e o envelhecimento populacional. Merkel, por sua vez, alerta para os riscos de divisão política: “Se nos dividirmos em relação à política de refugiados e migração, teremos um grande problema, porque precisamos de uma Europa forte e unida”.

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