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Dólares da Líbia: entenda por que Sarkozy foi preso

Sarkozy é acusado de ter recebido milhões de euros do governo líbio para financiar sua campanha presidencial de 2007

Nicolas Sarkozy (Foto: REUTERS/Benoit Tessier)

247 - Nicolas Sarkozy, ex-presidente da França, começou a cumprir pena de cinco anos de prisão por envolvimento em um suposto esquema de financiamento ilegal de campanha com recursos oriundos da Líbia. As informações são da BBC News Brasil. É a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que um ex-chefe de Estado francês é encarcerado por decisão judicial.

Sarkozy é acusado de ter recebido milhões de euros do governo líbio para financiar sua campanha presidencial de 2007. Em troca, segundo a acusação, ele teria se comprometido a reabilitar internacionalmente o então líder líbio Muammar Khadafi. O caso é considerado um dos escândalos mais explosivos da política francesa contemporânea, pois envolve corrupção internacional, geopolítica do petróleo e, anos depois, guerra.

O papel de Sarkozy na ofensiva da OTAN na Líbia

Apesar de negar qualquer vínculo ilegal com Trípoli, Sarkozy teve papel decisivo em 2011 ao liderar a intervenção da OTAN contra a Líbia, que resultou na destruição do Estado líbio e na morte de Khadafi. À época, o governo francês defendeu que a operação visava “proteger civis”, mas documentos e investigações apontaram conflitos de interesse: o mesmo líder que teria ajudado financeiramente sua campanha tornou-se alvo prioritário de uma coalizão militar liderada por Paris, Londres e Washington.

Essa contradição — receber apoio político e financeiro da Líbia em 2007 e liderar a ofensiva militar contra o país quatro anos depois — tornou-se elemento central no debate político e jurídico na França.

Chegada à prisão e reação pública

Sarkozy, de 70 anos, se apresentou na manhã de terça-feira (21/10) à prisão de La Santé, em Paris. Ele ocupará uma cela de cerca de 9 m², com cama, mesa, banheiro, chuveiro e televisão. Apesar de estar em isolamento por motivos de segurança, afirmou não querer tratamento especial.

Do lado de fora de sua casa, mais de cem simpatizantes se reuniram após um apelo de seu filho Louis, de 28 anos. Em mensagem publicada na rede social X enquanto era levado à prisão, Sarkozy disse: “A verdade prevalecerá... não é um ex-presidente que eles estão prendendo, é um homem inocente”.

As acusações e o esquema investigado

De acordo com a Promotoria Nacional Financeira da França, Sarkozy teria participado de uma rede organizada para captar ilegalmente recursos líbios. Ele foi condenado por “associação criminosa” ao lado de dois ex-colaboradores, Claude Guéant e Brice Hortefeux.

Os investigadores afirmam que emissários ligados a Sarkozy se reuniram com autoridades de Trípoli em 2005, em encontros intermediados por Ziad Takieddine, empresário de origem franco-libanesa. Takieddine afirmou ter transportado malas com mais de € 5 milhões em espécie para Paris. Ele morreu no Líbano pouco antes da sentença do caso.

Sarkozy foi absolvido da acusação de receber o dinheiro diretamente, mas a Justiça entendeu que ele teve papel ativo na operação clandestina de financiamento da campanha. Mesmo tendo recorrido, a Justiça ordenou a sua prisão imediata devido à “gravidade excepcional dos fatos”.

Apoio político e impacto institucional

Na véspera da prisão, Sarkozy foi recebido no Palácio do Eliseu pelo presidente Emmanuel Macron, que disse ser “natural, no plano humano, receber um ex-presidente nesta situação”. O ministro da Justiça, Gérald Darmanin, afirmou que irá visitá-lo na prisão: “Não posso ser insensível à angústia de um homem”.

Livros e simbolismo

Ao entrar na prisão, Sarkozy levou dois livros: A Vida de Jesus, de Ernest Renan, e O Conde de Monte Cristo, clássico de Alexandre Dumas que narra a história de um homem preso injustamente que busca justiça.

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