Dick Cheney, arquiteto da “guerra ao terror”, morre aos 84 anos
Ex-vice-presidente dos EUA, Cheney teve papel decisivo na invasão do Iraque em 2003
247 - Dick Cheney, ex-vice-presidente dos Estados Unidos e um dos estrategistas mais influentes da política americana recente, morreu aos 84 anos, informou sua família nesta terça-feira (4). Cheney foi o 46º vice-presidente do país, exercendo dois mandatos ao lado do republicano George W. Bush, entre 2001 e 2009.
Considerado o arquiteto da “guerra ao terror”, Cheney desempenhou papel central nas decisões que levaram à invasão do Iraque em 2003, apoiada em alegações de armas de destruição em massa que mais tarde se mostraram falsas. As informações são do jornal O Globo.
O estrategista da resposta ao 11 de Setembro
Em 11 de setembro de 2001, Cheney coordenou parte da resposta imediata aos ataques da Al Qaeda a partir de um bunker sob a Casa Branca. “Naquele momento, você sabia que era um ato deliberado. Um ato terrorista”, declarou à CNN em 2002.
A partir daquele dia, tornou-se o rosto da doutrina americana de segurança preventiva e um dos principais defensores da mudança de regimes no Oriente Médio. Foi também uma das vozes mais persistentes pela derrubada de Saddam Hussein, então presidente do Iraque.
Carreira política e poder nos bastidores
Antes de se tornar vice-presidente, Cheney teve uma longa trajetória em Washington: foi chefe de gabinete da Casa Branca no governo Gerald Ford, secretário de Defesa sob George H. W. Bush — quando conduziu a Guerra do Golfo — e deputado pelo estado de Wyoming.
Em 2000, enquanto atuava no setor privado, foi convidado por George W. Bush para chefiar a busca por um vice-presidente. O processo terminou com o próprio Cheney assumindo o cargo.
Polêmicas e queda de popularidade
Durante o governo Bush, Cheney foi retratado como uma figura que exerceu poder inédito sobre decisões de segurança nacional e política externa. Embora caricaturas o apresentassem como “o verdadeiro presidente”, aliados afirmam que Bush sempre manteve a palavra final.
Ele foi o principal defensor das políticas mais controversas do pós-11 de Setembro, como o uso de interrogatórios violentos e a detenção de prisioneiros em Guantánamo sem julgamento — práticas amplamente criticadas como tortura.
Ao fim do mandato, sua aprovação era de apenas 31%, segundo o Pew Research Center. Mesmo assim, Cheney jamais se mostrou arrependido. “Eu faria tudo novamente”, afirmou em 2014, ao reagir a relatórios que classificaram as técnicas de interrogatório como brutais e ineficazes. Em 2015, reafirmou: “A guerra do Iraque foi a decisão certa. Acreditei nisso então, e acredito agora”.
Crítico de Trump e voto em Kamala Harris
Nos últimos anos, Cheney se distanciou do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a quem chamou de “covarde” e “a maior ameaça à república americana”. Suas críticas o isolaram dentro do Partido Republicano.
Em 2024, revelou ter votado em Kamala Harris, então candidata democrata e também ex-vice-presidente, num gesto simbólico que evidenciou o rompimento entre o antigo establishment republicano e o populismo de Donald Trump.
Saúde frágil e legado de poder
Cheney conviveu por décadas com sérios problemas cardíacos, sobrevivendo a vários infartos. Em 2012, recebeu um transplante de coração, que descreveu como “o presente da própria vida”. Sua trajetória foi marcada por poder, controvérsia e decisões que redefiniram a política externa dos Estados Unidos. Cheney deixa a esposa, Lynne, e duas filhas: Liz Cheney, ex-deputada e uma das principais opositoras de Trump dentro do Partido Republicano, e Mary Cheney.


