Correspondente de Opera Mundi é ameaçada por extremista português
Homem oferece 300 mil euros por extermínio de brasileiros e bônus de 100 mil pela morte da jornalista residente em Lisboa
Opera Mundi - Um militante de extrema direita de Portugal fez uma nova oferta de dinheiro pelo “extermínio” de brasileiros e incluiu um pedido específico pela cabeça da correspondente de Opera Mundi, Stefani Costa, que reside em Lisboa: “darei um bônus adicional de 100 mil euros”, escreveu Bruno Silva em uma publicação no X nesta quinta-feira (11/09).
“Não é a primeira vez que recebo ameaças de morte; já aconteceu várias vezes. Inclusive, já fui agredida na rua por um eleitor do Chega [partido político de direita radical], apenas por ser brasileira”, declarou a jornalista a Opera Mundi.
“Estou oferecendo um dos meus apartamentos no centro de Lisboa, avaliado em média em 300 mil euros, a quem realizar um massacre e exterminar pelo menos 100 brasileiros em Portugal, e darei um bônus adicional de 100 mil euros a quem me trouxer a cabeça da @sttefanicosta”, publicou Silva de forma xenófoba.
Stefani também explicou que o fato de ser jornalista e escrever sobre temas sensíveis e direitos humanos a torna alvo. “Em 2024, o líder do Chega, André Ventura, chegou a publicar um vídeo nas redes sociais segurando uma tesoura e uma reportagem que escrevi sobre ele, feita para uma revista”.
A correspondente em Portugal relembrou outro episódio de violência: “já fui intimidada dentro do Parlamento português por uma deputada do partido e por pessoas ligadas a movimentos neonazistas”. E acrescentou que “essas atitudes acabam legitimando o comportamento violento de alguns apoiadores da extrema direita”.
Os crimes de ódio e a violência têm crescido de forma alarmante em Portugal. Em cinco anos, aumentaram mais de 200%. Somente em 2024, foram registradas 421 ocorrências desse tipo. Infelizmente, isso demonstra o quanto esse tipo de discurso vem sendo “normalizado” no país.
A jornalista de Opera Mundi afirmou também que não se sente totalmente segura. “Mas essa sensação não é exclusiva minha. A verdade é que, hoje, poucos brasileiros se sentem seguros em Portugal. E isso vale não só para nós, mas para os imigrantes em geral”.
Atualmente, a justiça portuguesa ainda apresenta certa morosidade no tratamento dos crimes de ódio. Por conta disso, existe uma petição em curso que propõe a alteração do artigo 240 do Código Penal, com o objetivo de criminalizar, de forma efetiva, todas as formas de racismo e xenofobia.
“A Casa do Brasil e os movimentos Vida Justa e Solidariedade Imigrante, por exemplo, denunciam esses crimes e oferecem apoio aos imigrantes afetados. O GAC (Grupo de Ação Conjunta Contra o Racismo e a Xenofobia) também tem desempenhado um papel importante na mobilização para que o racismo seja devidamente criminalizado em Portugal. Além disso, o Consulado do Brasil em Lisboa tem prestado suporte jurídico em alguns casos, reforçando o apoio institucional aos cidadãos brasileiros em situação de vulnerabilidade”, explicou a brasileira que atualmente vive em Portugal.
A petição do GAC alega que práticas discriminatórias e racistas, por atentarem contra a dignidade e a honra e por constituírem violação de direitos constitucionalmente protegidos, merecem não apenas a censura social, ética e política, mas também uma condenação penal firme e inequívoca. A atual qualificação jurídica dessas práticas e discursos como meros ilícitos de natureza administrativa é insuficiente e afronta os valores fundamentais que sustentam uma sociedade justa e democrática.
“Diante da última ameaça, vamos tentar acionar o Ministério da Justiça do Brasil, assim como as autoridades diplomáticas do Brasil em Lisboa, solicitando o engajamento e acompanhamento do caso”, explicou o advogado responsável pelo caso, Camillo Júnior.
O defensor aponta discursos de ódio e desinformação promovidos pelo Chega como algumas das razões responsáveis pelo aumento da violência contra os imigrantes. “Desta forma, sendo a comunidade brasileira a maior em Portugal, acaba que também é atingida, mas acho que menos que os asiáticos. Sem dúvida alguma a islamofobia é a maior das chagas”.
Nova unidade policial em Portugal
Em Portugal, a criação da Unidade Nacional de Estrangeiros e Fronteiras (UNEF), subordinada à Polícia de Segurança Pública (PSP), tem causado apreensão entre imigrantes que vivem no país e despertado alerta entre representantes da comunidade brasileira.
A UNEF foi anunciada pelo governo português em setembro de 2024 e entrou em funcionamento no dia 21 de agosto. A nova força herdou cerca de 100 mil processos pendentes de afastamento de imigrantes em situação irregular, alguns parados há 50 anos. Somente em Lisboa, estima-se que existam 20 mil processos ativos.
O governo português argumenta que a nova unidade vai aumentar a eficiência do sistema migratório. Já para associações de imigrantes, a aposta em uma estrutura policial, em vez de resolver os atrasos nos processos de residência, pode acabar apenas por ampliar o medo e a insegurança entre estrangeiros que vivem no país.