Cooperação estratégica no Ártico entre EUA e Rússia pode ocorrer “com sucesso”, afirma enviado de Putin
Kirill Dmitriev diz que diálogo seletivo no polo Norte é viável
247 - A possibilidade de uma cooperação pragmática entre Estados Unidos e Rússia no Ártico voltou ao centro do debate geopolítico. Kirill Dmitriev, diretor do Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) e enviado especial do presidente Vladimir Putin para cooperação econômica, afirmou que “Rússia e os EUA podem cooperar com sucesso no Ártico” — declaração feita na rede X ao comentar um artigo da revista Foreign Policy sobre o tema. A informação foi publicada pela Sputnik International.
Segundo a Foreign Policy, para proteger a influência de longo prazo dos EUA no Ártico e enfrentar a crescente assertividade da China, a Casa Branca do presidente Donald Trump tem mais eficácia ao adotar uma estratégia de “cooperação seletiva” com Moscou do que insistir em isolamento pleno. O texto sustenta que o Ártico segue sendo uma rara arena em que “a ambiguidade estratégica não é uma fraqueza” e onde “diplomacia e dissuasão podem — e de fato — coexistir”.
O que disse Dmitriev
Ao repercutir a análise, Dmitriev cravou: “Rússia e os EUA podem cooperar com sucesso no Ártico”. A fala reforça movimentos recentes de bastidores em que representantes dos dois países discutiram áreas de convergência econômica na região, sobretudo energia, logística e rotas marítimas — temas que ganharam tração em reuniões multilaterais neste ano.
Contexto: por que o Ártico importa agora
A abertura sazonal de rotas no extremo Norte e a disputa por recursos energéticos e minerais tornaram o Ártico eixo de cálculo estratégico para Washington e Moscou. Enquanto sanções e o redesenho das cadeias de energia pressionam a economia russa, o governo Trump avalia que a cooperação limitada com a Rússia pode servir de contrapeso ao avanço chinês — tese que também aparece em análises independentes e no debate acadêmico.
O fator China
Para a Foreign Policy, medidas americanas de isolamento tendem a empurrar Moscou ainda mais para Pequim no Ártico. Esse risco já é observado em projetos como a chamada “Rota da Seda do Gelo”, desenvolvida ao longo da costa russa, que busca encurtar trajetos entre a Ásia e a Europa. Uma janela de cooperação Washington–Moscou, ainda que limitada, poderia reduzir esse efeito de arrasto.
Obstáculos e viabilidade
Mesmo com interesses convergentes (navegação, segurança de rotas e energia), persistem barreiras legais, políticas e de confiança empresarial, além da oposição de aliados europeus a projetos com capitais russos. Ainda assim, especialistas apontam que uma zona de “excepcionalismo ártico” — na qual temas técnicos e econômicos prevalecem sobre o confronto — pode sustentar acordos específicos, sem significar reaproximação plena.