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Começa paralisação do governo dos EUA em meio a impasse no Congresso

Fechamento suspende dados econômicos, afeta 750 mil servidores e expõe a disputa entre Casa Branca e Senado

Trump fala ao Cngresso (Foto: Reuters)

247 - Grande parte das operações do governo dos Estados Unidos está paralisada a partir desta quarta-feira (1º), após o fracasso de um acordo de financiamento entre o Congresso e a Casa Branca. O impasse, alimentado por disputas partidárias, interrompe a divulgação de indicadores cruciais — como o relatório de emprego de setembro —, pode atrasar viagens aéreas, suspender pesquisas científicas, atrasar salários de militares e colocar 750 mil servidores federais em licença não remunerada, a um custo estimado de US$ 400 milhões por dia.

A paralisação tem início horas depois de o Senado rejeitar uma medida emergencial que manteria o governo funcionando até 21 de novembro, informa a Reuters.

No centro da disputa está um pacote de US$ 1,7 trilhão para manter agências e serviços — cerca de um quarto do orçamento total de US$ 7 trilhões. Democratas e republicanos divergem sobre a extensão de subsídios de saúde que vencem no fim do ano: a oposição democrata quer incorporar a renovação dos benefícios na lei orçamentária; aliados do governo sustentam que o tema deve ser tratado em projeto separado. Enquanto não há consenso, cresce o risco de um fechamento mais longo do que o histórico de 35 dias registrado entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, durante o primeiro mandato de Donald Trump.

A tensão política já repercute nos mercados. Futuros de Wall Street recuaram, o ouro bateu máximas históricas e as bolsas asiáticas oscilaram com o temor de atraso na divulgação de dados e de impacto sobre o emprego, enquanto o dólar rondou a mínima de uma semana frente a pares principais. Do lado do governo, a estratégia é endurecer. A Casa Branca e aliados indicaram que um shutdown poderá abrir caminho para cortes adicionais de programas e de pessoal. O diretor do Orçamento de Trump, Russell Vought, que pede verbas “menos bipartidárias”, chegou a ameaçar demissões permanentes em caso de fechamento.

No Capitólio, a retórica subiu de tom. O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, afirmou: “Tudo o que eles querem é tentar nos intimidar. E não vão conseguir”.

Já o líder da maioria no Senado, John Thune, defendeu a medida rejeitada como “não partidária”, sem “riders” ideológicos, e atribuiu a paralisação à política eleitoral. Embora os republicanos aliados de Trump controlem as duas Casas, o avanço de leis orçamentárias no Senado exige 60 votos — ao menos sete democratas — para aprovação.

A aposta democrata é transformar a pauta da saúde em bandeira mobilizadora antes das eleições legislativas de 2026. Além de renovar subsídios, o partido discute travas para impedir uma eventual reversão pelo Executivo caso as mudanças sejam sancionadas. A resistência do governo em gastar verbas já aprovadas pelo Congresso alimenta a desconfiança da oposição e complica a costura de um acordo de curto prazo.

Analistas veem um cenário mais volátil do que em paralisações anteriores. Para Robert Pape, professor de Ciência Política da Universidade de Chicago e estudioso da violência política, o ambiente hiperpolarizado — intensificado após o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk e pelo fortalecimento das alas mais radicais de ambos os partidos — dificulta o recuo de líderes.

Enquanto o impasse prossegue, o impacto prático do shutdown se espalha por todo o país: agências federais reduzem equipes, contratos são suspensos, famílias de servidores ajustam orçamentos e empresas aguardam dados oficiais para planejar decisões. Sem uma saída negociada, a pressão tende a crescer nos bastidores — tanto em Wall Street quanto nas bases eleitorais — para que Congresso e Casa Branca fechem um acordo rápido e minimizem os danos econômicos e sociais.

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