China impõe taxas de porto a navios dos EUA como retaliação
Medidas afetam embarcações americanas antes de negociações comerciais entre Trump e Xi Jinping
247 - A China anunciou a aplicação de novas taxas de porto sobre embarcações de propriedade dos Estados Unidos que atracarem em seus portos. A decisão é uma resposta direta às taxas planejadas pelo governo americano para navios chineses, e faz parte de uma série de ações retaliatórias que antecedem as negociações comerciais entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder chinês, Xi Jinping.
As taxas anunciadas pelo Ministério dos Transportes da China têm um valor de 400 yuan (cerca de US$ 56) por tonelada líquida para cada viagem de navios de propriedade americana, ou que operem, sejam construídos ou registrados sob bandeira dos Estados Unidos. O imposto será aplicado até o limite de cinco viagens anuais por embarcação e aumentará a cada ano até 2028, quando atingirá 1.120 yuan (aproximadamente US$ 157) por tonelada líquida. A medida entrará em vigor no dia 14 de outubro, coincidindo com o início da aplicação das taxas americanas sobre navios chineses, conforme informou o Ministério dos Transportes chinês.
Em uma declaração oficial, o ministério chinês destacou que as novas taxas são "contra-medidas" às práticas "erradas" do governo dos Estados Unidos, que, segundo a China, prejudicam os interesses legítimos da indústria de navegação do país. As autoridades chinesas ainda classificaram as taxas americanas como "discriminatórias", capazes de "danificar severamente" a indústria de transporte marítimo da China e prejudicar o "ordem econômica e comercial internacional".
Além da medida sobre as taxas portuárias, a China tem adotado outras restrições comerciais antes de uma esperada reunião entre os líderes dos dois países, marcada para ocorrer no final de outubro durante o Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), na Coreia do Sul. Recentemente, Pequim anunciou novas restrições à exportação de terras raras e tecnologias relacionadas, além de limitações adicionais à exportação de equipamentos de produção de baterias de lítio e outros itens correlatos.
A estratégia da China reflete em vários aspectos as tarifas que os Estados Unidos planejam impor aos navios chineses. De acordo com os planos dos EUA, os navios de propriedade ou operados pela China serão cobrados US$ 50 por tonelada líquida por viagem até os portos norte-americanos, com aumento anual de US$ 30 por tonelada até 2028. Assim como as novas taxas chinesas, a cobrança americana também terá um limite de cinco viagens anuais por embarcação.
Para Kun Cao, vice-presidente executivo da consultoria Reddal, as taxas chinesas não são uma "medida simbólica", mas um movimento calculado. Ele explica: "Ela mira explicitamente qualquer navio com vínculos significativos com os EUA — seja por propriedade, operação, bandeira ou construção — e aumenta de forma acentuada conforme o tamanho do navio". Cao ainda ressaltou que, embora a América do Norte represente cerca de 5% da frota mundial de navios por propriedade, esse é um número relevante, embora não tão expressivo quanto as frotas de países como Grécia, China e Japão. No entanto, ele destaca que os Estados Unidos têm apenas 0,1% do mercado global de construção naval comercial, com menos de 10 navios comerciais construídos no último ano.
Embora analistas de transporte tenham apontado que as taxas americanas sobre navios chineses provavelmente terão um impacto limitado no comércio e nas tarifas de frete, devido à redistribuição de frotas por algumas empresas para evitar os custos adicionais, a fornecedora de dados de transporte Alphaliner alertou que as taxas americanas ainda poderiam gerar custos de até US$ 3,2 bilhões no próximo ano para as 10 maiores transportadoras do mundo.


