Canal estratégico no Oceano Pacífico faz parte de planos dos EUA para tentar encurralar a China
Washington mobiliza tropas e mísseis nas Filipinas para bloquear rota crucial que conecta o Mar do Sul da China ao Pacífico Ocidental
247 - Uma estreita via marítima entre as Filipinas e Taiwan tornou-se peça central na estratégia dos Estados Unidos contra a China Segundo reportagem de Karen Lema e Davi Lague publicada pela Reuters, o Pentágono intensificou a presença militar na região com o envio de tropas e mísseis antinavio, em uma série quase contínua de exercícios conjuntos com as Forças Armadas das Filipinas.
Os Estados Unidos planejam usar o arquipélago filipino como barreira no chamado “Primeiro Arco Insular” — uma cadeia de ilhas que se estende do Japão até Bornéu — para impedir o avanço de navios chineses em caso de conflito com Taiwan. De acordo com oficiais entrevistados pela Reuters, um dos principais objetivos é bloquear o estratégico Canal de Bashi, passagem vital para o deslocamento da frota chinesa rumo ao Pacífico.
Filipinas na linha de fogo
A província filipina de Batanes, composta por dez pequenas ilhas no extremo norte do país, está a menos de 145 quilômetros de Taiwan e se tornou o novo epicentro da disputa geopolítica.
Os 20 mil habitantes convivem com o som constante de aeronaves e manobras militares. O ex-comandante da Marinha das Filipinas, almirante aposentado Rommel Ong, declarou que “é preciso negar à China o controle do Canal de Bashi”, descrevendo-o como o ponto decisivo de qualquer eventual guerra. Já o general Emmanuel Bautista, ex-chefe das Forças Armadas, foi direto: “Invadir Taiwan é quase impossível sem controlar o norte das Filipinas”.
Pequim reage e acusa interferência
A China reagiu às movimentações americanas. O Ministério das Relações Exteriores em Pequim afirmou que “a questão de Taiwan é um assunto interno da China” e advertiu Manila a não “usar pretextos para provocar confrontos e criar tensões no Mar do Sul da China”.
Apesar das críticas, Washington mantém a ofensiva diplomática e militar. O secretário de Guerra dos EUA, Pete Hegseth, disse ao Congresso que a prioridade do governo do presidente Donald Trump é “negar a agressão chinesa no Primeiro Arco Insular”, ampliando o tempo e a escala dos exercícios conjuntos com Manila.
Estratégia americana ganha força
Desde 2023, os EUA transportaram por via aérea lançadores de mísseis NMESIS para Batanes, capazes de atingir alvos a mais de 300 quilômetros. O sistema é projetado para “fechar o estreito”, segundo o porta-voz da Marinha filipina, almirante Roy Trinidad. Em paralelo, o Exército americano também posicionou lançadores Typhon com mísseis Tomahawk, que têm alcance superior a 1.600 quilômetros — o suficiente para atingir o território chinês.
“Se o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China fala contra isso, é sinal de que estamos fazendo a coisa certa”, ironizou o almirante Ong, ao comentar o descontentamento de Pequim.
As Filipinas, sob o governo de Ferdinand Marcos Jr., têm fortalecido laços com Washington. Marcos reconhece que, se houver guerra entre China e Estados Unidos por Taiwan, seu país “será inevitavelmente arrastado para o conflito”.
População se prepara para o pior
Enquanto a tensão cresce, o governador de Batanes, Ronald “Jun” Aguto Jr., atualiza planos de contingência para evacuar cidadãos filipinos que vivem em Taiwan — cerca de 200 mil pessoas. O ex-comodoro Edward Ike De Sagon revelou que o Exército prepara operações de resgate e recepção de refugiados.
“Estou apenas pensando em como sobreviver a uma guerra tão próxima”, afirmou o ex-ministro do Orçamento, Florencio Abad, natural de Batanes. “Mesmo que não sejamos diretamente envolvidos, podemos ficar isolados. Como vamos nos alimentar?”
Marilyn Hubalde, por sua vez, decidiu agir: “Precisamos começar a plantar de novo. Se a guerra vier, teremos que viver do que a terra nos dá”.


