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      O legado de Mino Carta: o jornalista que mudou para sempre a imprensa brasileira

      Fundador da CartaCapital e criador de grandes revistas, Mino Carta desafiou regimes e consolidou um jornalismo crítico e independente

      Mino Carta (Foto: Reprodução/YouTube/Câmara dos Deputados)
      Guilherme Levorato avatar
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      247 - O jornalista Mino Carta, fundador da revista CartaCapital, faleceu nesta terça-feira (2), aos 91 anos, em São Paulo. A informação foi confirmada pela própria publicação. Ele estava internado havia duas semanas na UTI do Hospital Sírio-Libanês, após enfrentar problemas de saúde ao longo do último ano.

      A trajetória de Mino Carta se confunde com a história recente da imprensa brasileira. Mais do que criar veículos de grande impacto — como Veja (1968), IstoÉ (1976) e a própria CartaCapital (1994) —, ele deixou como marca um jornalismo crítico, independente e corajoso, que desafiou governos autoritários e enfrentou os interesses dos poderosos.

      O arquiteto de revistas que marcaram época

      Nascido em Gênova, em 1932, Mino Carta chegou ao Brasil ainda jovem e, ao longo das décadas, transformou a comunicação nacional. Ele esteve na linha de frente do Jornal da Tarde (1966), revolucionário em linguagem e diagramação, e mais tarde liderou projetos que se tornaram pilares da imprensa moderna.

      Em plena ditadura militar, ousou publicar na Veja reportagens sobre tortura e repressão, enfrentando censura e pressões do regime. Já na IstoÉ, comandou coberturas históricas, como a que revelou as denúncias contra Fernando Collor, peça central para o impeachment do ex-presidente em 1992.

      O pensamento crítico como missão

      Mino nunca abriu mão da convicção de que o jornalismo deveria ser uma trincheira contra abusos de poder. Na CartaCapital, revista que mais expressava sua visão de mundo, estabeleceu três pilares editoriais: fidelidade à verdade factual, espírito crítico e fiscalização permanente do poder. Reportagens emblemáticas da publicação expuseram desde escândalos do setor financeiro até excessos da Operação Lava Jato.

      Crítico da transformação tecnológica no jornalismo, Mino advertia: “Um dia, os computadores vão engolir as pessoas”. Para ele, a revolução digital havia colocado a imprensa em posição de submissão às novas mídias, sufocando a busca pela verdade.

      Uma herança para o jornalismo brasileiro

      Mais do que fundador de revistas e jornais, Mino Carta foi um formador de gerações. Sob sua liderança, repórteres e editores aprenderam a valorizar a apuração rigorosa e a ousadia editorial. Sua influência se espalhou por redações de todo o país e moldou a forma como o jornalismo brasileiro encara os desafios do poder político e econômico.

      Mino também se dedicou à literatura, publicando romances como Castelo de Âmbar (2000) e A Vida de Mat (2016), onde refletia sobre memória, filosofia e existência. Mas foi no jornalismo que deixou sua marca definitiva, consolidando uma herança de coragem e independência que continua a inspirar profissionais da imprensa até hoje.

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