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O falso enfoque da mídia comercial sobre as relações entre o Brasil e o Irã

A chegada de navio iraniano a portos brasileiros levanta falsos questionamentos sobre as implicações para a economia e o agronegócio nacional

Navio militar iraniano Iris Makran navega no litoral do Rio de Janeiro (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)

247, José Reinaldo Carvalho (*) - Na última quarta-feira (8), um fato gerou repercussão em diversos círculos políticos e econômicos: a chegada de um navio iraniano ao porto de Santa Catarina. O evento, que na verdade é  uma movimentação comum no comércio internacional, acabou se tornando alvo  de ataques, baseados em preconceitos e posições políticas reacionárias, com implicações profundas para a segurança energética e alimentar do Brasil.

A matéria publicada pela jornal paranaense Gazeta do Povo informa que o navio iraniano Delruba, “sancionado pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros dos Estados Unidos (OFAC), atracou no Terminal Portuário Santa Catarina (TESC), no estado de mesmo nome.” Mais adiante, destaca que “o navio trouxe ao estado 60 mil toneladas de ureia granulada, destinada à fabricação de fertilizantes, no valor de US$24,4 milhões, cerca de R$130,6 milhões. A empresa fornecedora da carga, Pardis Petrochemical, também consta na lista de sanções dos Estados Unidos.” E acrescenta o seguinte comentário: “O alinhamento do Brasil com ditaduras que incluem, além do próprio Irã, China e Venezuela, tem afastado o país dos Estados Unidos e de seus aliados”, para em seguida defender o absurdo argumento de que a isto se devem as sanções tarifárias do presidente dos Estados Unidos ao Brasil

Além de distorcido, este enfoque, que transforma sanções unilaterais estadunidenses em lei extraterritorial, pretende que o Brasil se submeta aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos, renunciando à sua própria autonomia na política externa e nas relações comerciais. 

Ao tratar embargos de um terceiro país como vinculantes, esta abordagem desrespeita a soberania nacional e o direito do Brasil de conduzir suas próprias parcerias internacionais, como a legítima importação de insumos vitais – no caso, fertilizantes – de nações como o Irã, que é um player global legalmente reconhecido. A submissão a estas sanções unilaterais, coloca os interesses de uma potência estrangeira acima das necessidades econômicas e da segurança alimentar do próprio Brasil. 

Esse aspecto da cobertura é revelador de um jornalismo a serviço de potências estrangeiras, mesmo que isto seja lesivo à economia nacional. Em um momento de crescente tensão política e econômica internacional, a cobertura da mídia brasileira precisa ser sensível aos impactos que essas questões podem ter no Brasil. O comércio de ureia, insumo crucial para a agricultura nacional, não pode ser analisado sob a ótica dos interesses externos, mas deve ser considerado dentro do contexto da segurança alimentar do país, com atenção especial ao impacto direto que a interrupção de fornecimento de insumos pode ter sobre a produção agrícola.

A tentativa de vincular o comércio entre Brasil e Irã a uma agenda de sanções unilaterais impostas pelos Estados Unidos não apenas ignora os interesses do setor agrícola nacional, mas também pode ser vista como uma manobra para enfraquecer um dos pilares da economia brasileira. A diminuição de importações essenciais como a ureia poderia gerar um efeito dominó, afetando diretamente a produção de alimentos e outros produtos agropecuários.

Vale lembrar que o Brasil, historicamente, tem adotado uma postura de independência em relação às sanções unilaterais, reafirmando que o país não reconhece as imposições de outros governos, como no caso das sanções dos Estados Unidos. 

Portanto, as discussões geradas por essa matéria da Gazeta do Povo não podem ser dissociadas de um contexto maior, no qual certos grupos, ao longo do tempo, têm tentado criar dificuldades para a economia brasileira. Não é a primeira vez que o Brasil se vê em meio a uma campanha internacional que busca afetar seu comércio e, consequentemente, a economia de milhões de brasileiros.

Ao enfocar de maneira tão primária, por interesses políticos, a conduta do governo brasileiro, algumas publicações acabam dando suporte a um movimento que pode, no futuro, resultar em um impacto negativo para a economia brasileira, que não pode ser tratada como um mero instrumento de disputa política ou ideológica, mas partindo dos interesses estratégicos do país, em busca do desenvolvimento sustentável por meio do avanço de sua agricultura e do comércio exterior 

Em um momento tão crucial para a economia global, é essencial que o Brasil continue reafirmando sua posição de não se submeter a sanções externas, protegendo seus setores vitais e garantindo o bem-estar de sua população.

(*) Editor internacional 

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