Mídia europeia diz que Trump 'ultrapassou limites' ao impor tarifas de 50% ao Brasil
Para o jornal francês Le Monde, "Donald Trump instrumentaliza as tarifas alfandegárias para apoiar Jair Bolsonaro e declarar guerra a Lula"
247 - A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para o mercado estadunidense, repercutiu fortemente nos principais veículos de informação da Europa. A avaliação, segundo a RFI, é de que Trump “ultrapassou limites” ao “instrumentalizar” as tarifas.
A medida foi revelada durante coletiva de imprensa na Casa Branca, onde Trump esteve acompanhado de líderes africanos, segundo reportagem dos veículos internacionais. O mandatário americano colocou o Brasil no topo da lista de países que enfrentarão os novos aumentos tarifários.
Horas depois do anúncio público, Trump divulgou uma carta oficial dirigida ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na qual detalha que a tarifa-base de 50% será aplicada a partir de agosto. O documento especifica ainda que produtos já sujeitos a taxações, como alumínio e aço, poderão receber tarifas adicionais cumulativas.
A justificativa apresentada pelo presidente americano baseia-se em dois pilares principais: questões comerciais e políticas. Trump alega a existência de um déficit comercial dos Estados Unidos com o Brasil, embora dados oficiais do Departamento de Comércio americano demonstrem o contrário. Em 2024, os EUA registraram superávit de aproximadamente US$ 7,4 bilhões nas relações comerciais com o Brasil, exportando mais do que importaram do país sul-americano.
No aspecto político, Trump manifestou críticas ao processo judicial que envolve Jair Bolsonaro (PL), investigado por tentativa de golpe de Estado. Na carta enviada a Lula, o presidente americano classificou o julgamento como "uma caça às bruxas" e questionou "a maneira como o Brasil trata o ex-presidente Bolsonaro".
A repercussão na imprensa europeia foi imediata. O jornal francês Le Monde interpretou que "Donald Trump instrumentaliza as tarifas alfandegárias para apoiar Jair Bolsonaro e declarar guerra a Lula". A publicação francesa destacou trechos da correspondência presidencial, especialmente o parágrafo onde Trump defende que o julgamento do ex-presidente brasileiro não deveria ocorrer.
O Le Monde contextualiza o anúncio dentro de um período de tensões crescentes entre os dois países, tendo como cenário a recente cúpula do Brics. A matéria registra que Bolsonaro manifestou "grande felicidade" com a decisão e agradeceu "calorosamente" ao aliado americano através das redes sociais.
Trump também direcionou críticas ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, contestando decisões como a suspensão de contas em redes sociais e veículos de mídia que não cumpriam a legislação brasileira. O presidente americano acusou Moraes de promover censura e afirmou que o Brasil estaria violando princípios fundamentais da liberdade de expressão.
A escalada das tensões inclui ainda a ameaça de abertura de investigação formal contra o Brasil com base na Seção 301 do Ato de Comércio de 1974 — o mesmo instrumento jurídico utilizado por Trump em 2018 para justificar tarifas contra a China. Esta cláusula permite ao governo americano investigar práticas comerciais consideradas desleais, podendo resultar em retaliações econômicas.
O diário espanhol El País caracterizou a decisão como um momento em que o presidente americano "ultrapassa um limite em suas ameaças comerciais". O veículo classificou como uma "bomba" o anúncio das tarifas suplementares, observando que o percentual de 50% representa o valor mais alto imposto até então a qualquer dos países ameaçados nesta nova rodada da guerra comercial de Trump, "multiplicando por cinco a tarifa que Washington aplicou a Brasília em 2 de abril".
O jornal britânico The Guardian deu destaque à resposta do presidente Lula, que declarou nas redes sociais: "o Brasil é um país soberano, com instituições independentes, que não aceitará ser tutelado por ninguém". O veículo britânico também ressaltou as explicações do líder petista sobre a independência do Judiciário nacional e a rejeição da sociedade brasileira a conteúdos com manifestações de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes e discursos contra os direitos humanos e a liberdade democrática.
"Para operar em nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras estão submetidas à legislação brasileira", escreveu Lula, conforme reproduziu The Guardian.
O diário britânico observa que, além do Brasil, outros sete países foram alvos dos anúncios de Trump: Filipinas, Brunei, Moldávia, Argélia, Líbia, Iraque e Sri Lanka. Para o veículo, as ameaças intensificam os temores de que a controversa estratégia comercial do presidente americano possa agravar a inflação nos Estados Unidos.
O governo brasileiro já sinalizou que, caso a tarifa de 50% seja efetivamente implementada, o país responderá com medidas de reciprocidade comercial, que podem incluir sobretaxas aos produtos americanos ou o encaminhamento do caso à Organização Mundial do Comércio (OMC).
A tensão entre os dois países havia se intensificado no início da semana, após uma sequência de declarações indiretas veiculadas pela imprensa. No domingo (6), Trump acusou o Brics — bloco atualmente composto por 11 países — de ser uma aliança "antiamericana", manifestando a intenção de "desmantelá-lo" através de tarifas comerciais.
Em resposta, o presidente Lula reagiu durante a cúpula realizada no Rio de Janeiro. "O mundo mudou. Nós não queremos um imperador", declarou Lula. "Se ele acha que pode impor tarifas, outros países também têm o direito de impor tarifas."
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