Meta lucra com golpes digitais contra famílias de baixa renda, mostra estudo
Estudo do Projeto Brief revela que mais da metade dos anúncios analisados no Facebook e Instagram tem indícios de fraude, e 9% são golpes confirmados
247 - Um levantamento inédito do Projeto Brief expõe como o ecossistema de plataformas da Meta — que engloba Facebook, Instagram e WhatsApp — tem se transformado em um ambiente fértil para golpes digitais voltados a famílias de baixa renda no Brasil. A pesquisa mostra que a empresa lucra com anúncios fraudulentos que exploram a vulnerabilidade financeira e digital da população.
Divulgado nesta quarta-feira (6), o estudo faz parte da iniciativa “Quem Paga a Banda”, que investiga o financiamento e a disseminação de campanhas e redes de influência no ambiente digital. As informações foram publicadas pelo Projeto Brief, plataforma voltada ao fortalecimento da comunicação progressista no país.
Golpes estruturados no modelo de negócios
O relatório, intitulado “Fraude, IA e Dinheiro Falso: Como a Meta lucra bilhões com golpes e exploração de famílias carentes no Brasil”, analisou 16 mil anúncios ativos na Biblioteca de Anúncios da Meta em setembro deste ano. O resultado é alarmante: 52% apresentavam indícios de fraude, e 9% foram confirmados como golpes.
A maioria das publicações analisadas envolvia ofertas de empréstimos e créditos consignados, especialmente direcionadas a aposentados do INSS, trabalhadores com carteira assinada e beneficiários de programas sociais como o Bolsa Família e o BPC (Benefício de Prestação Continuada).Segundo o estudo, o problema vai além da mera negligência. As plataformas ganham com o engajamento, mesmo quando esse engajamento resulta em prejuízos para o usuário. “Quando um clique leva ao golpe, a Meta ainda assim lucra. Isso mostra um modelo de negócios que se beneficia da vulnerabilidade”, aponta o documento.
Brasil é líder em vítimas de fraudes digitais
A pesquisa cita dados da Febraban/Datafolha (2024), que estimam que 56 milhões de brasileiros — cerca de 33,4% da população adulta — foram vítimas de algum tipo de fraude digital no último ano. As perdas financeiras ultrapassaram R$ 40 bilhões, sendo R$ 28,8 bilhões em golpes de PIX e boletos falsos, e R$ 13 bilhões em compras não entregues.Entre as práticas mais comuns estão o uso de deepfakes, imagens e vídeos gerados por inteligência artificial, e páginas falsas com dados incompletos ou inexistentes. Em muitos casos, os golpistas utilizam logotipos de grandes bancos digitais, como o C6 Bank, para conferir aparência de credibilidade.
Promessas falsas e apelo emocional
Os anúncios fraudulentos exploram o desespero de quem enfrenta dificuldades financeiras, com promessas de crédito rápido e sem burocracia. Mensagens como “empréstimos com garantia de veículo” ou “parcelas em até 36x” são comuns. Após o clique, o usuário é levado a conversas via WhatsApp, onde o golpe se concretiza.Ao pesquisar o termo “Bolsa Família” na biblioteca da Meta, os investigadores encontraram um número expressivo de anúncios que usavam o nome do programa social para atrair vítimas, prometendo benefícios extras, cartões de crédito ou antecipações inexistentes.
Falta de regulação favorece o crime
O relatório do Projeto Brief alerta que, sem uma regulamentação que obrigue as plataformas a agir com responsabilidade, o problema tende a se agravar. O texto cita como exemplo o Digital Services Act (DSA), legislação europeia que impõe deveres de diligência às Big Techs para prevenir danos sociais e econômicos.
Com métodos qualitativos e quantitativos, o estudo alcançou 95% de confiança e margem de erro de 5%, reforçando a robustez dos resultados. Para os autores, o cenário atual mostra que a Meta não apenas falha em conter fraudes, mas lucra com elas, perpetuando um ciclo que coloca em risco a segurança digital e econômica dos brasileiros mais pobres.


