“Trump resolveu brincar com a economia global”, diz Pedro Paiva
Correspondente da TV 247 em Nova York alerta para crise provocada por política tarifária imprevisível e seu impacto econômico e diplomático
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o jornalista Pedro Paiva, correspondente da TV 247 nos Estados Unidos, analisou os efeitos imediatos e estruturais da nova rodada de tarifas anunciadas pelo presidente Donald Trump. De acordo com Paiva, a política comercial adotada pela Casa Branca não só desestabilizou os mercados como provocou uma quebra de confiança no dólar e isolou diplomaticamente os Estados Unidos de aliados estratégicos.
“O Donald Trump resolveu brincar com a economia global”, afirmou o jornalista, ao traçar um paralelo entre a atual turbulência e outras crises históricas. “Desta vez, a crise tem nome e sobrenome. Ao contrário de outras ocasiões, como a pandemia de Covid-19 ou a crise de 2008, agora foi uma decisão tomada por uma única pessoa que decidiu, da cabeça dele, criar uma crise.”
As tarifas recíprocas começaram a vigorar recentemente, mas seus efeitos já foram sentidos em diversos setores. O impacto mais imediato, segundo Paiva, foi no mercado financeiro, afetando diretamente os fundos de aposentadoria da população americana. “Todo mundo viu o seu fundo de aposentadoria derretendo durante esses últimos dias. Foi uma queda muito acentuada”, relatou. “Isso é bastante democrático: eleitores democratas, republicanos, mais jovens, mais velhos — todos foram atingidos.”
A resposta negativa do mercado incluiu críticas até mesmo da Fox News, tradicionalmente alinhada ao Partido Republicano. “Nos últimos dias, todos os seus programas vinham questionando qual é o objetivo do Trump com essa política, considerando-a perigosa e capaz de levar os Estados Unidos à recessão.”
O jornalista destacou ainda que a instabilidade gerada pela administração Trump não é episódica, mas contínua. “Desde que ele começou essa política de tarifas, é absolutamente imprevisível. Ele anuncia, tira, muda, suspende. Isso abalou completamente a confiança dos investidores. A bolsa de Nova York chegou muito perto de entrar em ‘bear market’, com quase 20% de queda desde o último pico.”
Um episódio considerado simbólico do descontrole foi a venda de dólares pela China, que afetou diretamente os títulos da dívida norte-americana. “Isso acentuou o sentimento de que o dólar não é mais um porto seguro. Grandes veículos da imprensa aqui chegaram a afirmar que a China parecia mais segura do que os Estados Unidos para alguns investidores.”
Diante do caos nos mercados e da pressão crescente, inclusive dentro do Partido Republicano, Trump recuou parcialmente e anunciou uma “pausa” de 90 dias na aplicação das tarifas. “Ele quis aparecer como o salvador da pátria do problema que ele mesmo criou. Mas isso não resolveu o principal, que é a incerteza. Ninguém sabe o que vai acontecer daqui a 90 dias”, disse Paiva.
A confusão também se estendeu ao plano internacional. Ao aplicar tarifas contra países como Coreia do Sul, Japão e Índia, Trump desestruturou alianças estratégicas construídas por administrações anteriores. “Ele afastou aliados históricos dos Estados Unidos e jogou no colo da China países que até então serviam como barreiras à influência chinesa. O que ele fez foi enfraquecer a presença americana na Ásia.”
Para Pedro Paiva, as consequências diplomáticas são tão graves quanto as econômicas. “Trump chegou a dizer que os líderes do mundo estão ‘beijando o traseiro dele’ para negociar as tarifas. Isso não é o que um estadista fala quando quer construir pontes com outras nações.”
No plano interno, o impacto também se manifestou politicamente. “Sete senadores republicanos assinaram um projeto de lei para retirar do presidente o poder de impor tarifas, e figuras tradicionalmente leais como Ted Cruz começaram a se posicionar contra”, observou o correspondente. “A Câmara dos Deputados é mais reticente por depender do Trump para a eleição de 2026, mas até aí a insatisfação vem crescendo.”
Pedro chamou atenção para o fato de que a justificativa econômica central de Trump — o combate ao déficit comercial dos Estados Unidos — é válida, mas sua forma de enfrentá-la é ineficaz. “Não vai ser colocando tarifa contra o Vietnã e voltando a produzir camiseta nos Estados Unidos que o país vai evitar o seu declínio. Os EUA criaram a internet, mas hoje estão mal posicionados nas tecnologias do futuro, como inteligência artificial. E esse não é o caminho para recuperar essa liderança.”
A entrevista ainda trouxe cenas que ilustram o pânico econômico: “Houve filas em lojas da Apple como nas vésperas do Natal. Todo mundo tentando comprar iPhones antes da alta nos preços. O mesmo aconteceu em concessionárias, com pessoas correndo para trocar de carro antes da tarifa.”
Ao final, Pedro resumiu o quadro como uma crise de credibilidade nacional e internacional. “Ele tenta colar na China a imagem de vilã dos mercados, mas não vai colar. Na prática, é Trump quem está isolando os Estados Unidos e fortalecendo a China nesse redesenho global.” Assista:
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