"Trump quer tirar vantagem", diz Mantega
O ex-ministro analisa a relação com Trump e o impacto da política interna no Brasil, destacando o futuro das negociações e as perspectivas econômicas
247- Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda e um dos mais experientes economistas do Brasil, compartilhou suas perspectivas sobre as recentes interações entre o Brasil e os Estados Unidos, abordando a abordagem estratégica de Donald Trump para a América Latina. Durante sua participação no Boa Noite 247, Mantega discutiu não apenas a dinâmica política internacional, mas também os desafios econômicos internos do Brasil.
O economista destacou a importância de equilibrar os interesses estratégicos do país em um cenário internacional turbulento, especialmente com relação às negociações com os Estados Unidos. Mantega reconheceu que a reunião recente entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, que ocorreu com um tom mais amistoso do que o esperado, abre possibilidades para um acordo positivo. "Eu estava preocupado com este encontro, porque a gente tem que confiar no Trump tanto quanto confiar em um lobo faminto. Ele pode atacar a qualquer momento", afirmou o ex-ministro, ressaltando que, apesar das tensões, o encontro não resultou em exigências diretas para o Brasil, o que foi um alívio. Contudo, ele acredita que Trump ainda fará solicitações, como a utilização das terras raras brasileiras e uma postura mais restritiva em relação aos BRICS.
Mantega também falou sobre as implicações internas desse novo cenário. A recente saída do ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, gerou discussões no Brasil. Mantega sugeriu que a pressa de Barroso em deixar o cargo pode estar relacionada ao receio de sanções dos Estados Unidos, devido à sua ligação com propriedades nos EUA. “Eu acho que ele estava com medo de sofrer sanções e perder as propriedades que tem lá nos Estados Unidos”, comentou Mantega. Ele também mencionou que a saída de Barroso representa uma oportunidade para o presidente Lula reforçar sua base de apoio dentro do governo, especialmente considerando a possível nomeação de Messias para a Advocacia Geral da União (AGU), um movimento que poderia agradar à bancada evangélica.
Em relação ao cenário global, Mantega analisou a recente virada nas relações entre Trump e Lula, destacando que a mudança se deve ao endurecimento das políticas da China. Ele também abordou a guerra comercial com a China e as possibilidades de acordos bilaterais. "Trump está tentando seduzir e coagir a América Latina ao mesmo tempo", disse Mantega, afirmando que o Brasil precisa de um equilíbrio delicado para manter boas relações tanto com os EUA quanto com a China, sem ceder demasiadamente a nenhuma das potências.
O ex-ministro também levantou preocupações sobre o impacto da política fiscal interna no Brasil, especialmente com a crescente pressão sobre o governo para cortar gastos. Mantega argumentou que, apesar da desaceleração do crescimento econômico, o Brasil ainda possui um poder de barganha significativo devido às suas reservas em dólares. "O Brasil hoje tem uma reserva sólida, o que lhe dá um poder de barganha maior nas questões internacionais", destacou, sugerindo que o país precisa explorar mais esses recursos para fortalecer sua posição.
Em um cenário político conturbado, com pressões internas e externas, Mantega mostrou que a estratégia do Brasil é complexa e exige uma navegação cuidadosa entre os interesses nacionais e as demandas globais. Ao mesmo tempo, ele reforçou que o país precisa de mais estabilidade interna para enfrentar os desafios fiscais e econômicos, que ainda são um obstáculo para o governo Lula. "Mesmo com crescimento um pouco menor, o governo tem condições de reeleger o presidente Lula", concluiu Mantega, demonstrando otimismo sobre a trajetória política futura do Brasil. Assista:


