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“Mídia tenta minimizar crimes da extrema direita”, diz Laurindo Lalo Leal

Jornalista e sociólogo defende decisões do STF, critica cobertura dos grandes jornais e vê avanço democrático com a punição a golpistas

“Mídia tenta minimizar crimes da extrema direita”, diz Laurindo Lalo Leal (Foto: Brasil247)

247 - A consolidação da democracia brasileira ganhou um novo capítulo com as recentes condenações relacionadas às investidas golpistas. Em entrevista ao Brasil Agora, da TV 247, o professor, sociólogo e jornalista Laurindo Lalo Leal avaliou que as decisões do STF marcam um ponto de inflexão no enfrentamento à extrema direita e na responsabilização de seus líderes e operadores.

Logo no início da conversa, Lalo Leal foi categórico ao dizer que o momento é de celebração da Justiça — não da desgraça de indivíduos. “Devemos comemorar o retorno da democracia e da concretização da democracia na história do Brasil”, afirmou, ao comentar as penas impostas pelo Supremo e o impacto institucional das decisões.

Para o professor, a crítica recorrente de que as punições seriam “exageradas” desinforma o público e distorce o funcionamento do Judiciário. “Isso acaba sendo também uma fake news porque ela engana o leitor”, disse, ao cobrar que veículos expliquem a dosimetria prevista em lei — com parâmetros mínimos e máximos — em vez de insinuar arbitrariedade do tribunal.

O silêncio das Forças Armadas após as condenações também foi lido como um dado relevante. Segundo Lalo Leal, o rito processual foi “claro” e “respeitoso”, o que torna “muito difícil contestar” as decisões. Ele destacou ainda o caráter pedagógico das sessões transmitidas, com linguagem acessível e recursos visuais que ajudaram a população a compreender os votos. “Nesse caso não houve espetacularização nenhuma”, avaliou, elogiando especialmente a clareza dos votos da ministra Cármen Lúcia e do relator, ministro Alexandre de Moraes.

Na seara internacional, Lalo Leal observou que a repercussão foi ampla e favorável ao Brasil, que “aparece para o mundo como uma possibilidade de conter o avanço da extrema direita”. Ele criticou a reação de parte da imprensa ao dar palco a narrativas que relativizam crimes ou sustentam versões fantasiosas nas redes, como a de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria “mandado prender” adversários. Em paralelo, o professor reprovou declarações e gestos de autoridades estrangeiras e locais que, a seu ver, alimentam uma “política do medo”, e elogiou a resposta firme do Itamaraty.

O professor também comentou falas do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que saiu em defesa de Jair Bolsonaro. Para Lalo Leal, esse tipo de manifestação personaliza debates que deveriam ser conduzidos em base institucional e legal, desviando o foco de crimes e responsabilidades. Ele vê um resíduo conservador na grande mídia brasileira que, “sempre tem que colocar alguma peninha” quando há decisões favoráveis ao Estado de Direito, reeditando práticas editoriais que, historicamente, relativizaram violações.

Outro ponto central da entrevista foi a relação entre comunicação, opinião pública e políticas sociais. Lalo Leal afirmou que parte da imprensa trata medidas de proteção ou de renda como “eleitoreiras”, o que obscurece seus efeitos concretos na vida das pessoas. Ele lembra que a melhora recente nas pesquisas de avaliação do governo decorre de percepções reais sobre entregas e obras — apesar de entraves no Congresso. O recado, para ele, é que a cobertura precisa abandonar o cinismo automático e oferecer contexto.

O debate incluiu ainda autocrítica ao campo progressista, especialmente sobre a perda de enraizamento social que organizações de base tinham no passado e que, nos últimos anos, foi ocupado por outras redes de sociabilidade, como igrejas neopentecostais. Esse deslocamento, somado ao ecossistema digital, ajuda a explicar a força do antipetismo e a persistência de desinformação — marcas de uma era de pós-verdade, em que a disputa por atenção e crença supera fatos verificáveis e explicações técnicas. Nesse ambiente, explica uma análise recente na Glasp, a responsabilidade comunicacional e a educação midiática tornam-se vitais para reduzir o espaço de narrativas falsas que corroem a confiança pública. 

Por fim, Lalo Leal ressaltou o caráter histórico do momento: a punição a militares e civis envolvidos em ataques à democracia corrige omissões do passado e estabelece um padrão de responsabilização que tende a desestimular novas aventuras autoritárias. “Ainda teremos novas emoções pela frente”, disse o professor, lembrando que as decisões tratam de um “núcleo” e que há outros processos em andamento. A mensagem, no entanto, é inequívoca: o Brasil envia um sinal interno e externo de que a Constituição não é um adereço — e que seus violadores serão julgados. Assista: 

 

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