"Condenar golpistas é avanço histórico, mas democracia não pode depender apenas do STF", diz Douglas Belchior
Para o educador, as punições aos articuladores do golpe são pedagógicas, mas defende maior protagonismo do Congresso e fortalecimento do trabalho de base
247 - O educador e ativista Douglas Belchior, conhecido como Negro Belchior, afirmou que o julgamento e a condenação dos articuladores da tentativa de golpe do 8 de janeiro representam um marco histórico, mas alertou que a democracia não pode se apoiar unicamente nas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).
Para Belchior, o fato de militares e políticos de extrema-direita estarem sendo responsabilizados judicialmente é inédito no país. “É a primeira vez que temos um grupo golpista, que promoveu uma tentativa explícita de golpe, sendo julgado e condenado. Isso precisa ser reconhecido como algo absolutamente positivo”, afirmou Belchior,durante entrevista ao programa Brasil Agora, da TV 247.
O ativista destacou que a punição tem caráter pedagógico e reforça a gravidade das ações golpistas:
“Toda vez que setores da extrema-direita e da oligarquia histórica tentam manter o poder à força, precisa haver reação. O posicionamento do STF é fundamental para deixar claro que golpes não podem ser ignorados”.
Apesar de considerar as condenações um avanço, Belchior fez um alerta sobre a centralidade do Judiciário no processo democrático.
“Não é justo nem possível que a sociedade siga refém do STF para que justiça seja feita e para que os debates democráticos avancem. Precisamos de um Congresso ocupado por setores democráticos, capaz de resolver os problemas do país sem estar atrelado a quem tentou o golpe”, disse.
Ele lembrou que o Parlamento segue fortemente influenciado por políticos alinhados ao bolsonarismo, o que limita a construção de consensos em defesa da democracia.
Disputa política e ameaça da anistia
Belchior também analisou as pressões pela anistia aos golpistas, defendida por setores do Centrão e pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Ele lembrou que pesquisas de opinião, como a do Datafolha, apontam que a maioria da população (54%) rejeita a anistia.
“Existe uma disputa política e eleitoral em curso. Para os bolsonaristas, Bolsonaro continua sendo o principal ativo da extrema-direita. Eles vão jogar todas as fichas para chegar fortes em 2026. Do nosso lado, cabe manter a unidade democrática construída em torno do presidente Lula”, avaliou.
O ativista também comentou o papel da comunicação digital na ascensão da extrema-direita e reconheceu que a esquerda ainda enfrenta dificuldades nesse campo.
“Nós não dominamos as ferramentas de tecnologia e, além disso, elas não estão nas nossas mãos. Enquanto isso, a extrema-direita ocupa espaços diversos da internet — de páginas de nutrição a grupos de entretenimento — para espalhar sua narrativa. Isso os coloca em enorme vantagem”, disse.
Belchior defendeu que, mesmo diante dessas limitações, os setores progressistas sigam investindo em mobilização popular:
“A única coisa que podemos garantir é não abrir mão do trabalho de base, de organizar as pessoas e proliferar nossas ideias, por mais limitadas que sejam as ferramentas que temos”.