Mário Kertész: "A elite brasileira é burra e por isso rejeita Lula"
Jornalista afirma que Lula é odiado por representar ameaça histórica aos interesses de uma elite atrasada, que rejeita avanços sociais e democráticos
247 – Em entrevista concedida ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, o jornalista e radialista Mário Kertész fez uma profunda análise do cenário político brasileiro, criticando duramente a elite econômica do país por sua rejeição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aos 81 anos, com mais de três décadas à frente do programa da Rádio Metrópole, Kertész foi categórico: “A elite brasileira é burra, sim, em certo sentido, porque sempre apostou na manutenção de uma estrutura que lhe garante lucros e poder, mesmo que isso prejudique o país”.
A conversa,publicada no canal da TV 247 no YouTube (link para a entrevista), foi marcada por reflexões contundentes sobre o papel da mídia, das igrejas, da direita política e da desinformação que molda a percepção popular. “Hoje em dia, o pobre é convencido de que o verdadeiro inimigo não é quem o explora, mas outro. Isso é obra de anos de manipulação midiática, religiosa e ideológica”, afirmou o jornalista.
Lula isolado e a corrosão da racionalidade pública
Kertész destacou que o governo Lula enfrenta uma população radicalmente diferente daquela de seus primeiros mandatos. Segundo ele, há um isolamento político do presidente, que perdeu o convívio com antigos aliados capazes de fazer alertas críticos. “No Lula 1 e 2, ele tinha gente que podia dizer: ‘Lula, não faça isso que vai dar merda’. Hoje, ele não tem mais esse tipo de interlocutor”, lamentou.
Ele também criticou a transformação da comunicação política, citando a perda de influência da mídia tradicional para influenciadores e podcasters: “Tudo virou uma bagunça. A racionalidade tem dificuldade para se impor nesse ambiente de caos informativo”.
A influência de Trump e o risco da extrema direita
Para Kertész, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, favoreceu Lula ao impor sobretaxas que escancararam a hostilidade norte-americana. Ainda assim, ele alerta para a crescente influência da extrema direita no Brasil. “A direita pode se unir no segundo turno, e a gente corre o risco de um governo autoritário, neoliberal, que despreza o povo”, advertiu.
Ele acredita que Jair Bolsonaro continuará atrapalhando a reorganização da direita. “Ele é personalista e inseguro. Vai demorar a aceitar que não será candidato e pode tentar impor a mulher ou o filho, o que enfraquece a direita”, avaliou, considerando Tarcísio de Freitas como potencial nome viável, mas ameaçado pela própria sombra de Bolsonaro.
Um panorama histórico de resistência à mudança
Mário Kertész revisitou episódios históricos para ilustrar o padrão de rechaço da elite a líderes populares. Citou Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Lula como exemplos de presidentes atacados por representarem avanços nacionais. “Getúlio se matou, Juscelino quase foi impedido de governar e Lula precisou escrever a famosa carta aos brasileiros para acalmar o capital”, lembrou.
A elite, diz ele, nunca aceitou Lula: “Eu vejo gente dizendo ‘odeio o Lula, quero que ele morra’. Quando pergunto por quê, inventam qualquer coisa. O ódio é irracional, é de classe mesmo”.
O papel das igrejas e o abandono da educação
O jornalista alertou para o papel das igrejas pentecostais na desmobilização popular e crítica à ausência de investimentos estruturais. “Enquanto a Igreja Católica forma padres em quatro anos, essas igrejas formam pastores em um mês. Elas acolhem e moldam o pensamento do povo”, explicou. “A única saída é a educação, mas ninguém quer esperar pelo resultado de longo prazo que ela exige”, disse.
Ao comentar a situação da imprensa, Kertész lamentou o desaparecimento de espaços realmente independentes e denunciou a submissão financeira da mídia tradicional. “Hoje, tudo está alinhado. São poucos os que ainda tentam fazer jornalismo crítico”, afirmou. Ele destacou a importância de espaços como a Rádio Metrópole e veículos como o Brasil 247 por manterem esse espírito vivo.
Genocídio na Palestina e silêncio internacional
Como judeu, Mário Kertész também se posicionou contra o massacre promovido pelo governo de Benjamin Netanyahu na Palestina. “O que está acontecendo é genocídio, é desumano. E o pior é o silêncio cúmplice da comunidade internacional e de grande parte da comunidade judaica brasileira”, denunciou. “Lula não é antissemita. Isso é uma estupidez”.
Mesmo diante das dificuldades, Mário Kertész vê uma oportunidade para o Brasil no novo cenário geopolítico. “Com a ascensão dos BRICS e o declínio do modelo imperial dos Estados Unidos, temos uma chance rara. Mas é preciso abandonar o complexo de vira-lata e investir no que o Brasil tem de melhor: sua gente, sua cultura, sua criatividade”.
A entrevista completa, com mais de 50 minutos de análise e memória política, está disponível no canal da TV 247 no YouTube. Uma aula de história, lucidez e sinceridade de um dos mais respeitados jornalistas do país. Assista:
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