Brasil já reúne indicadores para sair do Mapa da Fome da ONU
FAO deve anunciar extraoficialmente a conquista brasileira em cúpula na Etiópia, após queda expressiva na insegurança alimentar severa desde 2023
247 – O Brasil está prestes a conquistar mais um marco na luta contra a fome. Segundo informações da Agência Gov, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) deve anunciar, de forma extraoficial, entre os dias 27 e 29 de julho, durante cúpula em Adis Abeba, na Etiópia, que o país sairá novamente do Mapa da Fome. O anúncio oficial, previsto para julho de 2026, pode ser antecipado diante dos resultados expressivos já alcançados.
Na última quinta-feira (24), o presidente Lula demonstrou otimismo durante cerimônia em Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha (MG). “Nós acabamos com a fome em 2014. Quando eu voltei em 2023, tinha 33 milhões de pessoas passando fome outra vez. Depois do golpe na Dilma, não cuidaram mais disso. Mas vocês vão ter uma surpresa: esta semana, o Brasil vai sair do Mapa da Fome outra vez”, declarou o presidente.
Queda histórica na fome e na pobreza
O ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Wellington Dias, que representará o Brasil no Comitê de Segurança Alimentar da ONU, destacou os avanços recentes em entrevista ao programa Bom dia, Ministro. Segundo ele, o Brasil já alcançou os patamares exigidos pela FAO para deixar o Mapa da Fome, graças à queda significativa da insegurança alimentar severa.
“Mesmo em 2023 e 2024, a gente já estaria fora do Mapa da Fome. Em 2023 a gente reduziu de 4,7% [da população em insegurança alimentar severa], caiu para 2,8%. E em 2024, eu acho que a gente deve ter ficado 2,3%, 2,4% para baixo. Com 2,5% para baixo, já sai do Mapa da Fome”, explicou Dias.
A FAO adota critérios baseados na média dos últimos três anos, o que empurraria o anúncio oficial para 2026. No entanto, com os números atuais, o reconhecimento antecipado extraoficial se tornou possível.
Da crise à reconstrução: três anos de retomada
O Brasil havia saído do Mapa da Fome pela primeira vez em 2014, após 11 anos de políticas sociais consistentes. Porém, entre 2019 e 2022, houve um retrocesso expressivo, com crescimento da pobreza e da insegurança alimentar, culminando no retorno do país ao indicador de fome extrema da ONU.
Em 2023, no primeiro ano do novo governo Lula, o cenário começou a mudar. Dados mostram que 14,7 milhões de brasileiros deixaram de passar fome, reduzindo a insegurança alimentar severa de 17,2 milhões de pessoas em 2022 para 2,5 milhões. A queda percentual foi de 8% para apenas 1,2% da população. Para o ministro Wellington Dias, trata-se de um feito sem precedentes: “Veja que o Brasil já é o país que saiu da fome em menos tempo, 11 anos [em 2014]. Agora vamos alcançar em três anos”.
Segundo ele, a redução da miséria e da pobreza também é histórica. “A miséria estava em 9%. O Banco Mundial divulgou agora, caiu para 4%. A pobreza estava em 37% em 2021, caiu agora para 23%, segundo o Banco Mundial, a FGV e vários estudos do IBGE. Nós tivemos a maior redução da desigualdade da história do Brasil. Todos esses indicadores são recordes”, afirmou o ministro.
Bolsa Família, infância e inclusão produtiva
O novo Bolsa Família, reformulado em 2023, tem sido um dos pilares centrais dessa transformação. Com valor mínimo de R$ 600 por família, além de adicionais para crianças, gestantes e adolescentes, o programa vem provocando impactos diretos na segurança alimentar, sobretudo na primeira infância.
Um estudo do Ministério do Desenvolvimento Social, em parceria com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, mostrou que houve redução de 91,7% no número de crianças pequenas vivendo em situação de pobreza ou extrema pobreza.
Além disso, a criação de empregos e o estímulo ao empreendedorismo foram determinantes para o aumento da renda das famílias. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), das 1,7 milhão de vagas com carteira assinada geradas em 2024, 98,8% foram preenchidas por pessoas inscritas no CadÚnico, e 75,5% eram beneficiárias do Bolsa Família.
O papel da proteção e do retorno garantido
O processo de desligamento gradual de famílias do programa, por elevação de renda, também reflete o sucesso da política social aliada ao crescimento econômico. Cerca de um milhão de famílias deixarão de receber o benefício em julho. A maioria — 536 mil — fez essa transição amparada pela Regra de Proteção, que permite a manutenção parcial do benefício por até dois anos.
Mesmo após esse período, famílias que voltarem à situação de vulnerabilidade são automaticamente reencaminhadas ao programa, graças à política do Retorno Garantido. Outros 385 mil domicílios ultrapassaram em julho o limite de meio salário mínimo por pessoa, também saindo do programa.
Um conjunto de políticas coordenadas
O combate à fome no Brasil não se resume ao Bolsa Família. Iniciativas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) fortalecem uma rede de proteção ampla, que envolve segurança alimentar, fortalecimento da agricultura familiar, acesso à renda e políticas de educação e saúde.
Ao que tudo indica, a política social brasileira dá sinais concretos de que é possível combater a fome com celeridade e eficiência. A possível saída do Brasil, em apenas três anos, do Mapa da Fome, reforça essa trajetória de reconstrução e aponta para um novo ciclo de desenvolvimento inclusivo.
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