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Jorge Viana: “Tarifaço abriu muitos novos mercados para o Brasil”

Apex Brasil aposta na diversificação comercial diante das sanções impostas pelos EUA

Trump, Jorge Viana e Lula (Foto: Reuters | ABR)

247 - Em entrevista ao Boa Noite 247, o presidente da Apex Brasil, Jorge Viana, afirmou que o chamado tarifaço imposto pelos Estados Unidos, apesar de representar um desafio imediato, acelerou a busca do país por novos parceiros comerciais e abriu portas para mercados estratégicos.

“O tarifaço abriu muitos novos mercados para o Brasil”, declarou Viana, ao explicar que a medida americana tem caráter político e não meramente econômico. Segundo ele, o governo brasileiro vinha, desde o início da atual gestão, ampliando a presença internacional, o que reduziu os impactos da decisão de Washington.

Diversificação como resposta às tarifas

De acordo com Jorge Viana, a Apex já havia organizado 16 encontros empresariais com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em diferentes continentes, além de outros quatro com o vice-presidente Geraldo Alckmin. Essas iniciativas, afirmou, resultaram na abertura de mais de 400 mercados para produtos brasileiros antes mesmo da imposição das tarifas.

“Nós já estávamos no mundo, já estávamos retomando força”, disse Viana. Ele destacou que essa estratégia permitiu ao Brasil reagir de forma estruturada ao bloqueio comercial americano: “Estamos trabalhando um plano de diversificar mercado para as empresas que tinham um grau elevado de dependência do mercado americano”.

Impactos regionais e programas de apoio

Viana reconheceu que setores específicos, como o do aço e o de mel orgânico, foram fortemente prejudicados. O estado do Ceará, por exemplo, registrou queda de 27% nas exportações em 2023. Para mitigar essas perdas, a Apex lançou o programa “Exporta Mais”, voltado para o Norte e o Nordeste, com 43 eventos previstos para atrair compradores de 72 países.

“Nós da Apex trabalhamos com 52 setores da economia e apoiamos cerca de 9.000 empresas exportadoras para os Estados Unidos. Muitas delas são pequenas e precisam desse suporte”, explicou.

Novos parceiros estratégicos

Além de buscar diálogo com setores empresariais americanos que também serão afetados pelas tarifas, o Brasil intensifica missões comerciais na Índia, Indonésia, Nigéria e países do Mercosul. Viana lembrou que a Índia, por exemplo, registrou crescimento de 58% nas trocas comerciais com o Brasil em agosto, na comparação com o mesmo mês do ano anterior.

“Nunca tínhamos alcançado o que conseguimos agora no acordo Mercosul-União Europeia”, ressaltou, ao citar que o tratado avançou para a etapa final de aprovação no Conselho da União Europeia. Para ele, o cenário internacional, ainda que desafiador, favorece a ampliação das exportações brasileiras em setores de maior valor agregado.

Pragmatismo nas relações internacionais

Ao ser questionado sobre as perspectivas com os Estados Unidos, Viana defendeu cautela, lembrando que a decisão de Washington foi motivada por razões políticas internas. “Tomara que não entre numa escalada, mas o processo vai escalar e, se eles considerarem isso como algo que vai exigir outras medidas, vai ficar muito ruim para a gente ter algum otimismo”, avaliou.

Apesar disso, reforçou que o Brasil não abrirá mão de manter presença comercial em Washington, Nova York e São Francisco. “Nós não podemos desistir da economia. São 200 anos de relação com os Estados Unidos”, concluiu. Assista:  


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