Jeferson Miola: Lula retoma ofensiva política e governo inicia novo ciclo virtuoso
Projeto de isenção do IR fortalece o governo e abre fase positiva para Lula
247 - Em participação no programa Giro das Onze, da TV 247, o jornalista Jeferson Miola traça um panorama da atuação política recente do governo Lula, apontando para uma virada estratégica no cenário nacional.
Miola destaca que o governo “teve que bater muito tambor, divulgar e proclamar essa enorme vitória para mais de 16 milhões de contribuintes” com a aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$5 mil e a redução parcial para salários até R$7.300. Ele considera a aprovação por unanimidade — 493 votos favoráveis — um “algo inédito” na Câmara, atribuindo o êxito tanto à engenharia tributária concebida pelo ministro Fernando Haddad quanto à condução política de Artur Lira.
“Era um projeto com neutralidade fiscal, que não criava tributos novos, que autocompensava a renúncia com novas receitas sem alterar o sistema tributário nacional”, afirma Miola. Ele ressalta que Haddad conduziu a proposta de “maneira serena, didática e professoral”, o que tornou sua aprovação viável. Sobre a votação, acrescenta:
“Aliás, o grande beneficiário político dessa decisão de ontem é o governo, indubitavelmente”
Miola reconhece também o papel central de Artur Lira no processo. Apesar de criticar sua postura como “gangster” e suas negociações obscuras no Congresso, ele admite que o presidente da Câmara teve importância decisiva para viabilizar o projeto: “ele mostrou sua autoridade, sua força e seu poder dentro da Câmara dos Deputados”.
Uma mudança de postura como ponto de virada
Para o jornalista, o que mudou não foi tanto a correlação de forças numéricas — ele afirma que “numericamente nós temos a mesma realidade” —, mas a postura do governo e sua capacidade de iniciativa política. Em sua avaliação, entre os últimos dois meses e meio se consolidou “uma situação virtuosa” no plano político, impulsionada pela atuação comunicacional articulada pelo ministro Sidônio Palmeira e pela mobilização nas redes sociais.
Ele não é ingênuo com relação às dificuldades: o cenário eleitoral de 2026, segundo ele, se fecha com o governo em menor desvantagem numérica no Congresso, mas com uma narrativa pública reforçada pelo ganho de popularidade junto à base. Miola argumenta que a comunicação direta de Lula, sua presença midiática e o engajamento digital foram decisivos para reverter o quadro.
Ele sustenta que, em grande parte da estratégia oposicionista, “o lado de lá errou muito”, e que o governo reagiu estrategicamente a esses erros, lançando ofensivas políticas com pautas de consenso como a reforma do IR.
Perigos, limites e desafios para seguir em frente
Mesmo no momento de euforia, Miola faz ressalvas: o novo ciclo exige “responsabilidade” do campo democrático e recalibragem dos êxitos com projetos sustentáveis e qualificados para o Parlamento. Ele alerta que o governo hesitou em encaminhar o projeto de regulação das big techs ao Congresso — uma pauta estratégica para as eleições — e especula que a espera seria motivada pela necessidade de definir primeiro os desdobramentos do diálogo com os Estados Unidos.
Para Miola, 2026 trará um TSE menos garantista em relação à democracia, uma vez que Cássio Nunes Marques deve presidir o tribunal, com André Mendonça na vice-presidência. Ele afirma:
“Eles não têm absolutamente nenhum compromisso com a democracia. Eles relativizam tudo e defendem intransigentemente o direito da extrema direita de delinquir e falsificar a realidade nas redes sociais.”
No debate eleitoral, o jornalista considera que Tarcísio de Freitas atua menos por escolha própria do que por imposição do bolsonarismo. Ele sugere que a candidatura de Tarcísio é parte de uma estratégia do bloco ultra-conservador para confrontar Lula em 2026, mesmo sabendo que qualquer opção competitiva terá de estar alinhada ao bolsonarismo — o que pode lhe retirar credibilidade eleitoral.
Finalmente, Miola reafirma que o cenário democrático não está pacificado: segundo ele, “o jogo não acabou, está longe de acabar”. O ciclo virtuoso do governo exige constante ativismo político, mobilização social e decisões estruturantes para consolidar o campo democrático. Assista: