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      “Hoje, todo o sistema sensível de segurança do Brasil está nas mãos dos Estados Unidos e de Israel”, diz especialista

      Reynaldo Aragon alerta que país não tem infraestrutura própria para garantir soberania digital, militar e informacional

      (Foto: Reuters | Divulgação)
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      247 - Em entrevista ao Boa Noite 247, o jornalista e pesquisador Reynaldo Aragon Gonçalves, integrante do Núcleo de Estudos Estratégicos em Comunicação, Cognição e Computação (NEECCC) e do INCT em Disputas e Soberania Informacional, afirmou que o Brasil encontra-se completamente vulnerável diante de ameaças externas por não dispor de infraestrutura soberana em áreas críticas como defesa, comunicação e tecnologia da informação.

      Segundo Aragon, a dependência brasileira de empresas estrangeiras, especialmente norte-americanas e israelenses, compromete diretamente a capacidade do país de tomar decisões autônomas em momentos estratégicos. “Hoje, todo o sistema sensível de segurança das forças armadas e da segurança nacional brasileira está nas mãos dos Estados Unidos e de Israel”, afirmou.

      Infraestrutura sensível e vulnerabilidade

      O pesquisador explicou que desde a venda da empresa brasileira Bravante Defense (antiga Odebrecht Defesa) para a israelense Elbit Systems, após o golpe de 2016, o país perdeu o que poderia ter sido a base de um setor de defesa soberano e com tecnologia própria. “Durante a Lava Jato, destruiu-se não apenas a indústria pesada. A Odebrecht tinha um projeto soberano na área de defesa que foi desmontado. Isso é uma tragédia para a soberania nacional”, disse.

      Além das forças armadas, Aragon também alertou para a fragilidade de instituições civis. “Os dados sensíveis de vários ministérios, como Agricultura e Desenvolvimento, estão armazenados em plataformas de big techs estrangeiras. Isso inclui a própria produção acadêmica brasileira, que está em nuvens como o Google Drive”, relatou. Ele exemplificou: “Meu pós-doutorado é sobre soberania informacional, e todos os meus dados estão nas nuvens do Google. É contraditório, mas não temos alternativa”.

      Guerra híbrida e apagão estratégico

      Para Aragon, o cenário internacional evidencia que os conflitos hoje ocorrem majoritariamente no campo cibernético. “Não é mais necessário lançar mísseis. Um botão pode causar um apagão completo em nossas comunicações militares, nos sistemas de vigilância e até na nossa capacidade administrativa”, alertou. “Se houver uma crise ou um conflito envolvendo o Brasil, basta um clique para desmontar o nosso sistema de defesa”.

      O pesquisador classificou esse modelo como parte da “guerra híbrida”, na qual empresas civis e militares operam de forma conjunta. “Hoje, empresas de tecnologia não apenas vendem serviços, mas são atores diretos das guerras modernas. Há drones autônomos que matam com base em reconhecimento facial, sem comando humano. Isso mostra o grau de sofisticação e risco desse novo cenário”, afirmou.

      A ameaça da OTAN e os interesses norte-americanos

      A declaração recente da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que ameaçou impor sanções ao Brasil por manter relações comerciais com a Rússia, também foi interpretada por Aragon como sinal da fragilidade brasileira diante do poder externo. “A OTAN é uma aliança militar. O que ela tem a ver com comércio de fertilizantes? Isso mostra que o Brasil está refém de interesses que não são os seus”, afirmou.

      Para ele, a atual ofensiva dos EUA visa impedir o avanço do Brasil e de seus aliados no BRICS. “A autorização do estudo da ferrovia bioceânica, que vai ligar o Atlântico ao Pacífico sem passar pelo Canal do Panamá, é uma ameaça direta à hegemonia norte-americana no continente. É disso que se trata essa guerra. A soberania digital é o novo campo de batalha”, disse.

      O desafio da reconstrução tecnológica

      Reynaldo Aragon defendeu que o Brasil invista imediatamente em uma estrutura tecnológica soberana, inspirando-se em modelos como os da China e da Rússia, mas adaptando-os à realidade nacional. “O Brasil precisa de uma soberania digital informacional própria, que respeite nossa cultura, nossa organização social e nossas necessidades estratégicas”, afirmou.

      Ele também criticou a falta de investimentos em ciência e tecnologia por parte do governo federal. “Prometeram editais de ponta para 2025, mas nada saiu. Enquanto isso, a maior bancada do Congresso é a bancada do Like, que representa as big techs. A soberania digital depende de vontade política, investimento e enfrentamento desses lobbies”, disse.

      Soberania e futuro

      Para o pesquisador, o Brasil está diante de uma “janela única de oportunidade” para redefinir sua estratégia de desenvolvimento soberano, especialmente no contexto da nova ordem geopolítica impulsionada pelo BRICS. “Não se trata apenas do Bolsonaro. É sobre um projeto de país. Os Estados Unidos querem impedir que o Brasil se desenvolva com autonomia. Mas nós precisamos avançar”, concluiu. Assista: 

       

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