Filho do pai da reforma agrária revela, à TV 247, a história que desconhecia
Henrique João Pinheiro relata à jornalista Denise Assis: "eu não conhecia a história do meu pai”
Por Denise Assis
Há três anos o consultor financeiro, que vive na Flórida, em visita à sua mãe, encontrou um baú com recortes e cartas do pai, João Pinheiro Neto, o ex-superintendente da reforma agrária proposta por Jango. Só então soube que o seu recolhimento tinha origem no tempo em que ficou na prisão, quando ele e as irmãs eram muito crianças. Henrique contou essa história ao 247.
Um baú e muitas histórias recuperadas dos documentos encontrados por Henrique João Pinheiro, neto do homem que dirigiu a Superintendência da Reforma Agrária (SUPRA), no governo de João Goulart, virou um documentário chamado “Terra Revolta – João Pinheiro Neto e a Reforma Agrária”, e será exibido no próximo dia 15 de agosto, na cidade Ouro Preto, na sala Joaquim Pedro de Andrade. Agora que o filme está pronto, Henrique conversou com o “Denise Assis Convida”, deste domingo (27), para falar da produção, com direção de Bárbara Goulart, neta de Jango e Maria Thereza, e Caio Bortolotti.
Dentre as reformas de base propostas por João Goulart, no comício da Central, em 13 de março de 1964, o grande destaque e o que mais incomodou à burguesia brasileira foi o decreto assinado ali, na frente de hordas de camponeses, que chegaram de trem, do interior, para assistir àquele ato que mudaria as suas vidas. O decreto, no entanto, caiu por terra quando na madrugada de 31 de março para primeiro de abril daquele ano, Jango também caiu, derrubado que foi por militares, depois de dois anos de conspiração entre empresários, militares e uma parcela conservadora da Igreja. O país mergulhou em 21 anos de ditadura, com consequências que ecoam até os dias de hoje.
Nessa história, muitos foram os personagens transformados em livros e filmes. Um deles, porém, manteve-se em silêncio até o dia 4 de novembro de 2006 – um mês e dois dias antes da morte do ex-presidente Jango, que faleceu no mesmo ano, em 6 de dezembro -, quando morreu no Rio, aos 77 anos, sem que sua família, exceto a mulher, Leda Pinheiro, conhecesse os momentos de dor e isolamento, na prisão da fortaleza de Santa Cruz (de 1555), em Niterói, para onde foi levado, após ser encontrado e levado preso do seu refúgio na Serra, no bairro de Corrêas, em Petrópolis.
“O meu pai jamais contou para nós isso. Eu não conhecia a história do meu pai. Só quando encontrei esse baú com cartas, recortes, esse material, foi que eu tomei contato com esse momento da vida dele”, conta, hoje, Henrique, aos 64 anos.
Henrique mora na Flórida, seguindo os conselhos do pai, que lhe dizia: ‘faça a sua carreira próxima dos bancos e saia do país’, lembra, agora que é um consultor bem-sucedido, morando na Flórida (EUA). “Ele dizia isso para mim e para as minhas irmãs, e só agora eu entendo. Ele tinha medo. Ele temia pela nossa segurança.”
Agora ele se divide entre considerar que o silêncio era medo, ou trauma. Certo é que decidiu, há três anos, contar toda a trajetória do pai, trazendo fotos e depoimentos como o do historiador Jorge Freitas, da historiadora Ângela de Castro Gomes, do ex-deputado petebista, Almino Afonso, muito próximo à Jango e sua família. Com uma fotografia bem cuidada, o documentário do produtor estreante, Henrique João Pinheiro nos traz um personagem elegante, de belo porte, e casado com Leda, uma mulher linda, que ainda hoje exibe os traços da beleza que encantou João Pinheiro Neto. Henrique define o que ficou do pai que descobriu naquele baú:
“Orgulho. Ele foi um idealista. E a minha mãe uma heroína.”
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