Extrema direita tenta retomar o protagonismo pela violência, diz Marcos Rolim
Chacina no Rio de Janeiro “obedeceu estritamente a uma lógica político-ideológica”, afirma especialista em segurança pública
247 - Em entrevista à TV 247, o sociólogo e especialista em segurança pública Marcos Rolim classificou a recente ação policial no Rio de Janeiro como a maior chacina produzida por forças de segurança no país e fez duras críticas à sua motivação e eficácia.
Rolim afirmou que o número de mortos e o nível de violência superaram episódios históricos de repressão, sem que a operação, no entanto, tivesse produzido ganhos reais de controle territorial ou redução das dinâmicas do crime organizado. Para o especialista, o impacto prático da intervenção foi nulo e os efeitos sociais, devastadores.
Em tom crítico, Marcos Rolim expôs a dimensão inédita do episódio: “Estamos diante da maior chacina já produzida por polícias no Brasil. Superou o massacre do Carandiru. Com a grande diferença de que esse resultado tem sido razoavelmente aceito e até apoiado por parcelas bastante expressivas da população, especialmente aquelas que moram nessas regiões dominadas pelo tráfico". A declaração destaca não só a escala da violência, mas também a aceitação social parcial do endurecimento represivo em áreas faveladas.
O sociólogo rejeita qualquer narrativa de sucesso operacional. “Essa situação que o Rio enfrenta, o controle territorial armado dentro do Estado Democrático de Direito, é inaceitável. Entretanto, o que temos visto? Não há uma estratégia, inclusive do ponto de vista da repressão. Esse tipo de operação que nós vimos acontecer mais uma vez no Rio não agrega nenhum resultado, inclusive nesse objetivo de retomada dos territórios". Segundo ele, a ausência de uma estratégia articulada transforma incursões violentas em episódios isolados, incapazes de transformar a correlação de forças no território.
Rolim também sublinhou o fracasso ético e humano dessas ações: “A morte nunca vale a pena. Sempre que há uma morte, há um fracasso. Seja [a morte] de suspeitos, seja a de policiais". O sociólogo rejeita a ideia de que o sacrifício de vidas poderia ser justificado por ganhos táticos, pois, na avaliação dele, tais ganhos sequer ocorreram. “Se isso tivesse resultado na retomada do território, na derrota da facção, alguém poderia até dizer: ‘bom, foi um custo necessário’. Mas sequer se cogita haver esse resultado. Não houve retomada do território".
Na avaliação de Rolim, a permanência das dinâmicas criminosas após a operação demonstra que a violência estatal não alterou substantivamente o panorama. “Seguramente o tráfico continua operando da mesma forma de antes do massacre. E se eventualmente o Comando Vermelho for derrotado e tiver que se afastar daquela região por alguma razão, outra facção poderá ocupar aqueles espaço. Então pensando sob a ótica exclusivamente repressiva, a operação não produziu absolutamente resultado nenhum".
Além da crítica técnica, o especialista atribui motivação política à ação. Para ele, a operação seguiu uma lógica de disputa ideológica e de imagem: “Na verdade, a operação obedeceu estritamente a uma lógica político-ideológica. A questão fundamental foi a seguinte: a extrema-direita no Brasil estava sendo cada vez mais isolada - por conta da estratégia maluca que eles inventaram de chantagear o Brasil no exterior; a operação policial surge nesse momento como uma tentativa de retomada do protagonismo".
Rolim vê nesse movimento um ensaio do discurso que deverá marcar a campanha eleitoral: a imposição de respostas autoritárias e simplistas para problemas complexos de segurança pública. “Fundamentalmente trata-se de uma retomada de um discurso de extrema-direita na segurança pública. O que estamos presenciando é a pedra fundamental daquele que será o discurso da campanha presidencial no ano que vem, de qualquer que seja o candidato apoiado pela extrema-direita, e esse discurso será: ‘é preciso prender em massa, é preciso matar suspeitos’".


