Breno Altman: “Manifestações mostraram que o governo pode ter um pé nas instituições e um pé na rua”
Altman defende mobilização popular como instrumento de pressão sobre o Congresso e alternativa de governabilidade
247 - Em conversa ao vivo com o programa Bom Dia 247, o jornalista e analista político Breno Altman avaliou que a jornada de protestos do fim de semana passado redefiniu o campo de forças em Brasília. Segundo ele, as ruas voltaram a operar como fator de pressão institucional. “Foi uma manifestação grande. Foi a primeira vez que as manifestações de esquerda se equipararam às manifestações bolsonaristas”, disse, citando estimativas do Observatório da USP para comparar os atos.Ao longo da entrevista no Bom Dia 247, Altman sustentou que a ampla capilaridade dos protestos — com atos em dezenas de cidades — produziu efeitos imediatos sobre a agenda do Congresso e abriu uma via prática de governabilidade que não depende exclusivamente de acordos parlamentares. Para o analista, o recado foi direto: “Não é preciso governar exclusivamente por dentro das instituições. É possível ter um pé nas instituições e outro pé na rua”.
Ruas como alavanca de governabilidade
Altman vinculou a força das mobilizações à capacidade de tensionar votações no Senado e na Câmara. “Eu sou capaz de apostar que a PEC da bandidagem ela tá morta, vai ser morta pelo Senado”, afirmou. Na avaliação dele, a reação popular isola iniciativas que buscam blindagens e anistias no âmbito legislativo e recoloca o governo diante de um caminho alternativo de negociação política: “É possível construir uma força de pressão externa ao parlamento, que pressione o parlamento de fora para dentro e que alicerce propostas e reformas que o governo queira defender que sejam efetivamente favoráveis ao povo”.Para além do efeito imediato — enterrar a chamada PEC da blindagem e frear tentativas de anistia —, Altman destacou o significado estratégico do retorno das ruas para um governo com minoria parlamentar. “As manifestações de ontem mostram que há um outro jeito para garantir a governabilidade no país, que não é necessário depender exclusivamente das negociações no parlamento”, disse. A presença popular, segundo ele, recompõe a correlação de forças e amplia a margem para pautas de interesse social avançarem.
Sinal para o Planalto e para o Congresso
O analista defendeu que o Executivo incorpore a mobilização como componente estável de sua articulação. “Mostrou-se que há uma possibilidade de governar de um outro jeito”, afirmou, ao ressaltar que a pressão social pode funcionar como contrapeso à maioria conservadora no Legislativo. Para Altman, a lição política está dada: “Vamos ver se essa lição ela foi aprendida e tem continuidade”.Ao mesmo tempo, a leitura sobre o Congresso é de que o custo político de medidas impopulares aumentou. A reação contra projetos que reduzam transparência e accountability, disse Altman, já se refletiu na postura de senadores diante do desgaste produzido pelos atos. A chave, para ele, é manter a capacidade de convocação: “O único jeito de governar não é negociando com a maioria conservadora e cedendo o tempo todo”.
Método e calendário da mobilização
Embora o foco de Altman esteja na função institucional das ruas, ele também apontou aprendizados operacionais que reforçam esse caminho. “Certamente as manifestações têm que ser sempre no domingo”, afirmou, ao defender datas que permitam maior participação popular sem necessidade de greve. O objetivo, disse, é consolidar um padrão organizativo que sustente a continuidade do ciclo de mobilização e preserve seu papel de pressão democrática sobre o Parlamento.
Ao final, Altman resumiu a mudança de cenário promovida pelos atos: as ruas voltaram a contar no cálculo de poder de Brasília. E, segundo ele, quando o governo mobiliza esse ativo, amplia sua capacidade de defender projetos “efetivamente favoráveis ao povo” sem depender apenas de arranjos internos do Congresso. Assista: