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“Brasil está anos-luz à frente do Norte Global”, diz Deyvid Bacelar sobre política energética

O coordenador-geral da FUP defende que o país pode liderar a transição energética sem abrir mão do petróleo

Deyvid Bacelar (Foto: Reprodução)

247 - O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, afirmou em entrevista ao Bom Dia 247 que o Brasil está muito à frente dos países do Norte Global quando o tema é transição energética e sustentabilidade. Para ele, não há contradição entre explorar petróleo e combater o aquecimento global, desde que isso seja feito com soberania, responsabilidade ambiental e participação popular.

 “Parece contraditório, mas não há contrariedade em defender a soberania energética e, ao mesmo tempo, a transição energética justa. O Brasil está anos-luz à frente do Norte Global nesse tema”, afirmou Bacelar.

Brasil é potência energética limpa e soberana

O dirigente destacou que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com 90% da matriz elétrica e 50% da matriz energética de fontes renováveis. Segundo ele, o verdadeiro desafio ambiental brasileiro está em outros setores.

“O problema no país para a emissão de gases de efeito estufa é outro: o agronegócio, o mau uso da terra, o desmatamento e as queimadas. Não é a indústria petrolífera”, disse.

Bacelar explicou que a exploração de petróleo na Margem Equatorial, região que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte, é estratégica para o futuro da soberania energética nacional. Ele lembrou que o pré-sal, responsável por 78% da produção atual, entrará em declínio a partir de 2032 e, se nada for feito, o país voltará a importar petróleo em 2036.

“A Margem Equatorial é fundamental para garantir a soberania energética brasileira”, afirmou.

O coordenador da FUP defendeu que o petróleo da Margem Equatorial seja explorado com rigor ambiental e que os recursos gerados sejam destinados à preservação ambiental e ao desenvolvimento sustentável das regiões Norte e Nordeste.

“Queremos que essa riqueza ajude na proteção da floresta amazônica, da Mata Atlântica e da Caatinga, e no desenvolvimento social das regiões com piores índices de desenvolvimento humano do país”, afirmou.

Bacelar ressaltou que a Petrobras tem experiência e tecnologia de ponta para conduzir essa exploração com segurança.

“A Petrobras está há mais de 35 anos explorando petróleo na Amazônia, em Urucu, sem nunca ter causado um acidente ambiental. Ela detém a melhor tecnologia do mundo em águas profundas e ultraprofundas”, afirmou.

Ele comparou a estatal brasileira com petroleiras internacionais que “devastaram países africanos e o Golfo do México” em acidentes ambientais.

“Se queremos evitar tragédias como essas, é preciso permitir que a Petrobras continue à frente dessa atividade, e não empresas estrangeiras movidas apenas pelo lucro”, disse.


FUP na COP30

Bacelar anunciou que uma delegação de 30 petroleiros e petroleiras participará da COP30, em Belém (PA), levando a posição da FUP em defesa de uma transição energética justa, soberana e com participação popular.

“Estaremos na COP defendendo o uso responsável das nossas riquezas petrolíferas, minerais e hídricas — para impulsionar uma transição que beneficie o povo brasileiro”, declarou.

O sindicalista enfatizou que o debate sobre energia precisa envolver trabalhadores, comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, que são diretamente impactados pelas mudanças no setor.


Negociações com a Petrobras e ameaça de greve

Durante a entrevista, Bacelar também falou sobre o impasse nas negociações com a Petrobras. Ele afirmou que a categoria rejeitou a proposta da empresa e aprovou estado de greve, podendo evoluir para uma paralisação nacional.

“Rejeitamos a contraproposta da empresa porque ela não atende às expectativas da categoria. Se não houver avanços, a tendência é uma greve nacional”, disse.

Entre as reivindicações estão a solução para os planos de equacionamento do déficit da Petros (PEDs), a reconquista de direitos históricos e o fim das demissões e cortes de custos.

Bacelar criticou a política de distribuição de lucros da Petrobras, que privilegia acionistas enquanto corta postos de trabalho.

“A empresa bate recorde de lucro líquido e de pagamento de dividendos, mas demite trabalhadores. Isso não faz sentido algum”, declarou.

Mesmo apoiando o presidente Lula, Bacelar reafirmou a autonomia sindical da FUP e da CUT. “Elegemos o presidente Lula, amamos o nosso bom velhinho, mas o governo é de coalizão. Ele precisa ser pressionado à esquerda para cumprir seu programa. Nosso papel é cobrar e defender os trabalhadores, independentemente de quem esteja no governo”.

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