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      Boaventura: "A esperança do mundo está no Brasil"

      Boaventura de Sousa Santos diz que país ocupa posição central na luta global contra o autoritarismo e questiona: “O Brasil vai resistir?”

      (Foto: Divulgação | Ricardo Stuckert / PR)
      Dafne Ashton avatar
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      247 - Durante entrevista ao programa Giro das Onze, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos afirmou que o Brasil representa hoje o principal foco de resistência global diante do avanço das forças autoritárias de extrema-direita. “Trump imperial: a esperança do mundo está no Brasil”, declarou, ao analisar o cenário político internacional e o papel estratégico do país na contenção das ofensivas conservadoras.Para o intelectual, a ascensão de Donald Trump nos Estados Unidos e o fortalecimento de regimes ultranacionalistas na Europa configuram um quadro de grave retrocesso democrático no Ocidente. 

      A Europa está sonâmbula a caminhar para sua destruição”, alertou. Segundo ele, a União Europeia perdeu seu rumo político, e os europeus “sonham com um ‘Lula’ à frente da UE”, tamanha a desilusão com os atuais dirigentes. Nesse contexto, Boaventura vê o Brasil como uma das poucas democracias reais do planeta. “Não há muitas democracias hoje no mundo. O Brasil é um país mais democrático que os EUA”, afirmou. Para ele, a questão central para o mundo neste momento se resume a uma pergunta: “O Brasil vai resistir?”.

      Ao abordar o cenário político brasileiro, Boaventura foi direto ao apontar o papel que o país exerce na geopolítica da extrema-direita. Ele afirmou que “a extrema-direita brasileira tem uma embaixada em Washington: Eduardo Bolsonaro”. Segundo o sociólogo, o deputado atua como ponte entre a direita radical norte-americana e a brasileira, sendo um agente ativo no fortalecimento do autoritarismo internacional. Ele também alertou para o comportamento da direita institucional no país, especialmente diante de interferências externas.

       “A direita brasileira se omite diante do ataque externo”, criticou. Para ele, essa omissão compromete a soberania nacional e enfraquece a capacidade do país de reagir a pressões vindas de Washington.Boaventura defendeu abertamente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e afirmou que o Brasil deve proteger sua autonomia econômica. “O país tem que apoiar Haddad para que ele não seja objeto de chantagem dos EUA”, disse, referindo-se à pressão externa sobre as decisões econômicas do governo brasileiro. 

      A crítica ao imperialismo norte-americano é reforçada pela sua análise sobre o papel de Donald Trump, que ele considera “a voz da tecno-oligarquia”. Segundo Boaventura, o ex-presidente e atual mandatário dos EUA atua como uma espécie de imperador do novo capitalismo digital e predatório. “Trump é imperador”, resumiu.

      Ao analisar a atuação das forças progressistas no Brasil, Boaventura criticou o que considera uma postura tímida diante das disputas públicas. “A esquerda no Brasil tem medo da rua”, disse, comparando-a com movimentos mais confrontativos, como o liderado por Jeremy Corbyn no Reino Unido. 

      A esquerda de Jeremy Corbyn é a esquerda do enfrentamento”, pontuou. O sociólogo também chamou atenção para a necessidade de ampliar o olhar da esquerda para além das questões exclusivamente humanas. “A esquerda tem que olhar para a vida no planeta e não só para a vida humana”, afirmou, sugerindo um compromisso maior com as pautas ambientais e da ecologia política.Um dos trechos mais contundentes da entrevista foi a crítica ao papel da religião na política atual. “Onde é que está a igreja dos oprimidos?”, questionou Boaventura, apontando o distanciamento das instituições religiosas em relação às causas sociais. 

      Na Europa, segundo ele, o retrocesso é visível até mesmo no campo das liberdades civis. “Hoje é crime defender a Palestina”, disse, referindo-se à repressão de manifestações pró-palestinas em diversos países europeus. 

      Ele também apontou a deterioração do sistema representativo: “Os partidos políticos deixarão de existir no futuro”.Para Boaventura de Sousa Santos, o cenário mundial é de polarização extrema. “Em momentos de polarização, a centro-direita se alia à extrema-direita, não à esquerda”, explicou. Nesse ambiente, o Brasil ocupa uma posição singular: ao mesmo tempo em que é alvo de pressões externas, é também uma referência para aqueles que ainda acreditam na democracia. “A esperança do mundo está no Brasil”, concluiu o sociólogo. Assista:

       

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