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"A Marinha era um núcleo golpista do 8 de janeiro", diz Moisés Mendes

Jornalista aponta legado bolsonarista na Marinha e critica papel do ministro da Defesa, José Múcio, em conter tensões nas Forças Armadas

"A Marinha era um núcleo golpista do 8 de janeiro", diz Moisés Mendes (Foto: Divulgação)

247 - A Marinha Brasileira é alvo de novas polêmicas após a divulgação de um vídeo institucional que, segundo críticos, reforça o desprezo pela sociedade civil e evidencia resquícios do bolsonarismo na corporação. Em entrevista ao programa Giro da Onze, da TV 247, o jornalista Moisés Mendes destacou que a Marinha foi um dos principais "núcleos golpistas" durante as tentativas de subversão democrática que culminaram nos ataques de 8 de janeiro. “Esse vídeo é uma vergonha para a Marinha Brasileira, uma peça que ecoa os ideais da extrema direita e do bolsonarismo”, afirmou.

O vídeo, que compara a dedicação dos militares à suposta "ociosidade" dos civis, foi duramente criticado por Moisés Mendes. Para ele, o material sugere uma visão elitista e autoritária da corporação. “A mensagem que passa é clara: quem trabalha são os militares, e a população civil é vista como vagabunda. É inacreditável que algo assim tenha sido produzido, parece coisa do Brasil Paralelo”, declarou.

Moisés contextualizou o vídeo dentro de um cenário mais amplo, no qual a Marinha, sob a gestão de Almir Garnier Santos — comandante da corporação durante o governo Bolsonaro —, teria desempenhado um papel central na tentativa de golpe de Estado. Relatórios da Polícia Federal indicam que Garnier Santos era peça-chave em articulações para fragilizar outros comandos militares, como os do Exército e da Aeronáutica, em favor do projeto golpista.

De acordo com o jornalista, o relatório da Polícia Federal detalha como figuras ligadas ao ex-ministro Walter Braga Netto, como o major reformado Ailton Barros, atuaram para intimidar comandantes não alinhados ao golpe. Moisés enfatizou que a pressão era direcionada a fragilizar a Aeronáutica e o Exército enquanto fortalecia a Marinha, tida como reduto bolsonarista.

“A Marinha se mostrou como um enclave golpista, diferentemente das outras Forças, que resistiram a se alinhar ao bolsonarismo. Isso está muito claro nos documentos. É preocupante que essa postura ainda ecoe na atual gestão, mesmo com um novo comando”, apontou Moisés, referindo-se ao atual almirante Marcos Sampaio Olsen, nomeado pelo presidente Lula.

Críticas ao papel de José Múcio

O jornalista também questionou a postura do ministro da Defesa, José Múcio, diante das tensões internas nas Forças Armadas. “Múcio deveria ser o interlocutor entre o governo e os militares, mas age como porta-voz das Forças Armadas. Permitir que um vídeo como esse fosse divulgado é uma falha grave, que desrespeita até mesmo o presidente Lula”, afirmou.

Moisés Mendes lembrou que, embora Múcio tenha defendido uma postura conciliadora, a pressão de setores das Forças Armadas por anistia a militares envolvidos em atos golpistas é um desafio crescente para o governo. “Se Múcio não conseguir conter essa ala militar bolsonarista, talvez já tenha passado da hora de ele ser substituído”, sugeriu.

Expectativa por delações

Outro ponto levantado foi a possibilidade de militares delatores colaborarem com as investigações. “Temos informações de que alguns militares presos já manifestaram interesse em delatar. Isso seria crucial para compreender o papel da Marinha e de outros setores nas tentativas de golpe”, comentou.

Para Moisés, a postura de resistência ao golpe por parte de comandantes do Exército e da Aeronáutica contrasta com a omissão de alguns setores que poderiam ter alertado o país sobre as articulações golpistas. Ele concluiu afirmando que é essencial distinguir entre resistência e omissão. “O silêncio também é uma forma de protagonismo no que aconteceu no 8 de janeiro, e isso precisa ser esclarecido.”

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