“A Europa está abraçando a própria orfandade”, afirma James Onnig
Para o professor, Rússia e Estados Unidos negociam sozinhos os termos da paz na Ucrânia, enquanto líderes europeus tentam salvar seu capital político
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o professor de geopolítica James Onnig destacou que o cenário internacional caminha para uma redefinição das esferas de poder com o avanço das negociações para o fim do conflito na Ucrânia. Segundo ele, enquanto Rússia e Estados Unidos se aproximam de um entendimento direto, a Europa assiste à movimentação como uma coadjuvante fragilizada e sem influência decisiva. “A Europa está abraçando a própria orfandade”, afirmou.
Onnig observou que há um movimento crescente de aceitação, tanto por parte do ex-presidente Donald Trump, atual ocupante da Casa Branca em seu segundo mandato, quanto pelo presidente russo, Vladimir Putin, de que a Ucrânia deverá ceder definitivamente a Crimeia e, de fato, os territórios ocupados de Donetsk, Zaporíjia e Kherson. “Hoje o reloginho está apontando para alguma solução mais próxima da paz”, disse o professor, indicando que a estabilização desses territórios sob domínio russo já é vista como uma realidade concreta.
O professor ressaltou que a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, não está mais em disputa: “Na Crimeia não tem conversa”, afirmou, lembrando que a península foi concedida à Ucrânia como parte de um acordo interno da antiga União Soviética, mas que historicamente e estrategicamente sempre teve importância central para os interesses russos.
Ao comentar o papel dos Estados Unidos, Onnig foi direto: “Eles assumem que realmente não foi sucesso. Não tiveram como conseguir os intentos que tinham projetado”. Segundo ele, a posição atual de Trump representa uma admissão da derrota americana em um conflito travado por procuração, o que, por consequência, expôs a vulnerabilidade da Europa. “É mais do que preocupante”, disse Onnig, completando que o continente europeu agora terá de rever suas estratégias de defesa e sua dependência histórica dos EUA.
Para Onnig, os governos europeus enfrentam um dilema: desfazer o discurso russofóbico adotado desde o início da guerra e recuar nas sanções econômicas, ou manter uma postura que isola ainda mais o continente de possíveis acordos bilaterais. “Os europeus estão muito mais preocupados em salvar seu cacife político”, observou.
Ele afirmou ainda que a pressão social e econômica dentro da Ucrânia pode levar a uma ruptura no governo de Volodymyr Zelensky, já enfraquecido. “Ou ele renuncia, ou realmente há uma sublevação fora da ordem democrática”, afirmou, destacando o descontentamento crescente entre militares e mães ucranianas diante da prolongação da guerra.
Segundo o professor, há sinais de desgaste político que podem acelerar a queda de Zelensky, inclusive com movimentações de oposição dentro das próprias Forças Armadas. “Já vários líderes políticos de oposição e até mesmo militares deram entrevistas dizendo que estão preparados para assumir uma nova postura política”, declarou.
James Onnig concluiu que a possível exclusão da Europa das mesas de negociação e o avanço do entendimento entre Estados Unidos e Rússia podem provocar um realinhamento do cenário internacional. Mas alertou: “Se isso espirrar para a extrema-direita, nós vamos ter realmente um grave problema político no continente”. Assista:
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: