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Safra farta derruba preços do arroz e feijão no Brasil, com quedas que passam de 20%

Grãos tradicionais do prato nacional ficaram mais baratos com maior oferta e mudanças no consumo

Grãos de arroz (Foto: Marcello Casal Jr/Ag. Brasil )
Guilherme Levorato avatar
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247 - Apesar da inflação de alimentos ainda pesar nas compras dos brasileiros, dois dos itens mais tradicionais da alimentação no país apresentaram recuos expressivos nos últimos 12 meses. De acordo com dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), divulgados pelo IBGE, arroz e feijão registraram quedas acumuladas de dois dígitos, impulsionadas principalmente por safras mais robustas e alterações nos hábitos de consumo da população, informa a Folha de S. Paulo.

Segundo os dados oficiais, o arroz teve uma redução de 12,07% em seu preço entre junho de 2024 e maio de 2025. O recuo ocorre após sucessivas altas nos anos anteriores e representa oito meses consecutivos de queda. No caso do feijão, o tipo preto despencou 23,01% no período, enquanto o feijão carioca – o mais consumido no país – ficou 13,17% mais barato. Variedades como o fradinho (-7,23%) e o mulatinho (-4,25%) também acompanharam a tendência de queda.

Oferta maior e padrão de consumo explicam movimento - A explicação central para esse cenário, de acordo com analistas do setor, está na elevação da oferta. “O principal fator [para a queda dos preços] é a oferta maior que a demanda”, afirmou o consultor Evandro Oliveira, especialista em arroz e feijão da consultoria Safras & Mercado. Ele também destaca que, embora a renda da população tenha crescido com a melhora do mercado de trabalho, a demanda pelos grãos caiu, afetada por diversos fatores sociais e econômicos.

Entre os motivos citados, Oliveira menciona mudanças nos hábitos alimentares – como a substituição de refeições caseiras por pratos prontos ou por refeições fora de casa – e o avanço das plataformas de apostas esportivas, as chamadas “bets”. Segundo o consultor, essas plataformas passaram a absorver parte do orçamento de famílias, inclusive de baixa renda, o que impacta diretamente no consumo de itens básicos.

Desempenho regional e projeções de safra - O desempenho positivo da agricultura em estados-chave para a produção também influenciou os preços. O Rio Grande do Sul, principal produtor de arroz do país, mesmo após as enchentes de 2024, deve ter uma recuperação significativa em 2025, com crescimento projetado de 15,9% na produção. Já o Paraná, destaque na produção de feijão, contribui com a primeira safra da leguminosa, que teve alta de 28,4% conforme o IBGE.

O economista Fábio Romão, da LCA 4intelligence, aponta que o ciclo de aumento de área plantada após altas de preços é comum. “Isso está acontecendo com o arroz”, observou. Após subir 5,98% em 2022, 24,54% em 2023 e 8,24% em 2024, o arroz teve expansão de 11,3% na área cultivada em 2025, conforme levantamento do IBGE. Romão projeta que o produto acumule queda de 13,7% neste ano no IPCA. Para o feijão, a expectativa é de retração de 4%, em média, considerando os quatro tipos acompanhados pelo índice.

Grãos destoam da tendência da cesta de alimentos - O alívio nos preços de arroz e feijão contrasta com o comportamento geral da alimentação no domicílio, que subiu 7,19% em 12 meses até maio. O café moído, por exemplo, foi o campeão de alta, com aumento de 82,24%, seguido pelas carnes, que registraram inflação acumulada de 23,48%.

Na cidade de São Paulo, os dados do Procon-SP em parceria com o Dieese reforçam a tendência de queda. O pacote de 1 kg de feijão carioca custava, em média, R$ 6,48 em abril de 2025, valor 17,87% inferior ao de abril de 2024 (R$ 7,89). Já o pacote de 5 kg de arroz caiu de R$ 28,73 para R$ 26,48, uma redução de 7,83%. Apesar disso, a cesta básica de alimentação na capital paulista encareceu 12,36% no mesmo intervalo.

Governo monitora impacto social da carestia - Mesmo com a trégua dada por arroz e feijão, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acompanha com atenção a inflação dos alimentos, que atinge de forma mais direta os mais pobres. O encarecimento da comida está entre os fatores que explicam a queda de popularidade do presidente no início de 2025. A administração federal tem buscado estratégias para conter o avanço da carestia, mas encontra desafios em um cenário de incerteza climática e mercado volátil.

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