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Para Haddad, Brasil precisa de uma classe dirigente que não pense apenas em dinheiro

Ministro da Fazenda defende em entrevista a formação de uma liderança política comprometida com um projeto nacional de longo prazo

Fernando Haddad (Foto: Diogo Zacarias/MF)

247 – Em entrevista concedida ao podcast 3 Irmãos, no último sábado (27/9), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o Brasil ainda busca consolidar uma classe dirigente capaz de pensar em um projeto de nação que não esteja subordinado à lógica da acumulação de riqueza. A reportagem é da Agência Gov.

Nós estamos num País absurdamente desigual. Nós precisamos começar a fazer alguma coisa para o povo crescer, ascender”, declarou Haddad, ao enfatizar que o governo atual integra essa busca pela construção de uma liderança política que transcenda os interesses imediatistas da classe dominante.

Diferença entre classe dominante e classe dirigente

Questionado sobre a apropriação de conquistas sociais por grupos econômicos, Haddad explicou:

 “Primeiro, falta uma classe dirigente no Brasil. Eu te digo o porquê: nos países capitalistas, você tem uma classe dominante, que é a proprietária dos meios de produção – das terras, das máquinas, das fábricas. Mas, nos países mais civilizados, há a classe dirigente, que nem sempre está capturada pela classe dominante. Que consegue enxergar mais longe o destino do País.”

Segundo o ministro, a resistência da elite proprietária em aceitar o surgimento de uma classe dirigente tem sido um entrave histórico ao desenvolvimento nacional. “Não tem país grande no mundo sem uma classe dirigente. Desenvolvimento pra valer, visão de longo prazo, um destino grandioso para a nação, que não tenha uma classe dirigente”, afirmou.

Exemplos históricos e golpes contra projetos de transformação

Haddad resgatou episódios da história brasileira em que tentativas de construção de uma classe dirigente foram sufocadas por movimentos autoritários. Ele citou o suicídio de Getúlio Vargas, a deposição de João Goulart e a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como exemplos de rupturas que interromperam projetos de longo prazo.

O ministro destacou ainda que, desde a abolição da escravidão e a proclamação da República, o Estado brasileiro foi “capturado” pela classe dominante.

 “O pessoal fala que no Brasil a abolição da escravidão não teve indenização. Mas teve. O Estado brasileiro foi transferido para a classe dominante brasileira. A monarquia foi para a Europa e deixaram o Estado na mão da classe dominante. E essa classe dominante jamais aceitou a formação de uma classe dirigente”, argumentou.

Fragilidade da democracia

Na visão de Haddad, a democracia brasileira permanece vulnerável porque sempre que o povo tenta assumir, democraticamente, o comando do Estado, surgem ameaças golpistas.

A fragilidade da democracia no Brasil se deve ao fato de que toda a vez que o povo quer se apossar democraticamente do Estado, no sentido de fazer valer seu destino, seu sonho, tem uma ameaça”, disse.

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