Ex-diretor do Itaú acusa banco de perseguição após ida ao Santander e cobra R$ 15,4 milhões
Alexsandro Broedel nega fraude, fala em “assassinato profissional” e diz que banco distorceu fatos por retaliação à sua saída
247 – O ex-vice-presidente financeiro do Itaú Unibanco, Alexsandro Broedel, abriu uma ofensiva judicial contra o banco ao qual serviu por anos. Em petição apresentada à 1ª Vara Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem de São Paulo, a defesa do executivo afirma que o Itaú agiu de má-fé para destruir sua reputação após ele aceitar uma proposta do Santander. Broedel cobra uma indenização de R$ 15,4 milhões por bônus e dividendos que, segundo ele, não foram pagos.
A informação foi revelada pelo jornal Valor Econômico, que teve acesso à contestação apresentada em junho. No documento, os advogados afirmam que o Itaú promoveu uma “distorção deliberada” da verdade para atingir a honra de Broedel e provocar seu “assassinato profissional”.
A crise teve início após o banco acusar Broedel e o contador Eliseu Martins — um dos nomes mais respeitados da contabilidade brasileira — de fraude, alegando a existência de uma sociedade informal entre os dois. O Itaú sustenta que houve pagamentos indevidos por pareceres contábeis prestados pelas consultorias de Martins, que teriam beneficiado diretamente Broedel.
O executivo, no entanto, nega qualquer irregularidade. Segundo sua defesa, o banco sempre teve conhecimento da parceria entre os dois e jamais a considerou um conflito de interesses. “A afinidade entre os dois, pessoal e intelectual, trazia resultados incalculáveis para a instituição”, sustenta o documento.
A defesa também rebate a tese de que houve repasses ilegais. Afirma que os valores recebidos por Broedel vieram de empréstimos informais feitos por Martins, com quem mantinha “relação pessoal muito próxima”. “Esses mútuos não foram de fato formalizados – mas isso é absolutamente normal em operações dessa natureza feitas entre pessoas que confiam entre si; incomum, a bem da verdade, é a formalização de mútuos entre pessoas próximas”, afirma a peça.
No centro da controvérsia estão dois processos movidos pelo Itaú. Em janeiro, o banco pediu a devolução de R$ 3,35 milhões, que teriam sido transferidos ilegalmente de Martins para Broedel. Em março, uma nova ação cobrou R$ 6,645 milhões por pareceres supostamente não entregues. Ao todo, a cobrança judicial ultrapassa R$ 9,9 milhões.
O caso ganhou novo capítulo em maio, quando Eliseu Martins firmou um acordo com o Itaú, comprometendo-se a pagar R$ 2,5 milhões. No termo, reconheceu que mantinha uma sociedade com Broedel, em que recebia 60% e o executivo, 40%, do faturamento. Apesar disso, alegou não saber que Broedel autorizava a contratação da consultoria dentro do próprio Itaú. Como parte do acordo, o banco desistiu de acionar judicialmente os filhos de Martins, sócios de suas empresas.
A defesa de Broedel questiona o uso do acordo como prova contra o ex-diretor. “Ainda que, no referido acordo, o Prof. Eliseu Martins tenha subscrito declarações acerca de certos fatos que não correspondem à verdade, de nenhum modo ele confessou qualquer ilegalidade”, argumenta o documento, que acusa o banco de interpretar de forma forçada os termos da negociação.
Procurado pelo Valor, o Itaú afirmou, em nota, que a ação contra Broedel “é baseada em fatos devidamente comprovados nos autos, não sendo motivada por conjecturas ou qualquer tipo de retaliação”. O banco também destacou que Broedel negou, em formulários de compliance preenchidos anualmente, qualquer vínculo com fornecedores ou prestadores de serviços. “Tal declaração foi desmentida pela confissão posterior de Eliseu Martins, que admitiu ter repassado 40% dos valores pagos à Care Consultores diretamente a Alexsandro Broedel”, informou a instituição.
O Itaú disse ainda que seu sistema de compliance segue íntegro e que “a ética é um valor inegociável”, mesmo quando os envolvidos já deixaram o banco. Broedel, que assumiria um posto global no Santander, acabou perdendo o cargo em junho deste ano, antes mesmo de tomar posse, em meio à disputa judicial.
O ex-diretor não se pronunciou publicamente até o momento. A ação ainda será analisada pela Justiça de São Paulo.
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