Empresas consideram medidas de Trump “irracionais” e adotam estratégias cautelosas
Especialistas alertam para instabilidade nas políticas dos EUA e recomendam que empresas adotem respostas cuidadosas e revisão de planos
247 - A crescente imprevisibilidade das decisões econômicas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem acendido alertas no mundo corporativo e entre analistas de risco. De acordo com reportagem do jornal Valor Econômico, consultorias estratégicas vêm orientando empresas a adotarem uma postura mais cautelosa e a redesenharem suas estratégias diante do comportamento considerado “irracional” do ocupante da Casa Branca. A escalada de medidas unilaterais, como tarifas e restrições comerciais anunciadas de forma repentina, tem dificultado o planejamento de negócios e exigido respostas mais ágeis do setor privado.
A avaliação predominante entre os consultores é que a imprevisibilidade não se limita ao campo diplomático, mas afeta diretamente a economia e o ambiente regulatório, com consequências para cadeias produtivas globais. Por isso, muitas empresas estão sendo aconselhadas a reavaliar investimentos, reestruturar seus fluxos de suprimentos e diversificar seus mercados de atuação. Em alguns casos, a recomendação é clara: suspender momentaneamente projetos de médio e longo prazo até que o cenário político norte-americano se estabilize.
Diante da instabilidade, diversas companhias também estão adaptando seus discursos institucionais. A nova orientação para CEOs e altos executivos é evitar declarações públicas que confrontem diretamente o presidente Trump, mesmo quando suas ações gerem impactos negativos nos negócios. A recomendação é que falas sejam transferidas para áreas técnicas — como departamentos financeiros ou jurídicos — e que se usem expressões como “ambiente econômico instável” ou “mudança regulatória repentina”, sem citar diretamente o governo dos Estados Unidos. A ideia é proteger a reputação da empresa e evitar retaliações por parte da administração americana.
Outro ponto destacado pelos consultores é a necessidade de criar estruturas internas permanentes para o monitoramento político e regulatório. Grandes empresas estão montando “salas de guerra” e estabelecendo canais de comunicação direta entre departamentos estratégicos, jurídicos e de relações institucionais. O objetivo é reagir rapidamente a mudanças de última hora impostas por ordens executivas ou alterações tarifárias, como as que têm sido recorrentes desde o início do atual mandato presidencial.
A instabilidade global gerada pelas ações dos EUA também tem levado à revisão de projeções financeiras. Ao menos 35 grandes empresas internacionais deixaram de divulgar estimativas de lucro em função das incertezas associadas às medidas adotadas por Trump, segundo levantamento citado pelo jornal. No Brasil, o cenário tem provocado reações semelhantes. O Banco Central brasileiro já manifestou preocupação com os impactos do chamado “tarifaço”, indicando que as decisões unilaterais de Washington dificultam a condução da política monetária nacional e geram dúvidas quanto à trajetória de inflação e juros.
Em setores fortemente expostos ao comércio internacional, como agronegócio, indústria automotiva e tecnologia, o ambiente tornou-se especialmente desafiador. As empresas brasileiras com presença nos Estados Unidos ou que dependem de insumos importados daquele país estão revendo contratos, buscando fornecedores alternativos e reforçando a avaliação jurídica de suas operações para mitigar riscos. Também há uma tendência de adiar anúncios públicos de novos projetos, tanto por incerteza econômica quanto pela preocupação com a imagem institucional em um ambiente geopolítico altamente polarizado.
Na avaliação final dos especialistas consultados, o fator “irracionalidade” no governo Trump impõe uma mudança estrutural na forma como empresas lidam com riscos. O mundo corporativo não pode mais basear seus planos em modelos de estabilidade institucional e previsibilidade diplomática. É preciso incorporar à gestão uma nova lógica: a da volatilidade permanente. E isso requer mais do que ajustes táticos — exige, sobretudo, uma reconfiguração estratégica profunda, tanto no planejamento quanto na comunicação e na governança.
Se antes a política era considerada um pano de fundo para os negócios, hoje ela está no centro do tabuleiro, com potencial direto para gerar ou destruir valor. Nesse contexto, navegar com cautela tornou-se essencial — e a capacidade de adaptação, uma vantagem competitiva decisiva.
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