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Empresas chinesas apostam no Brasil em meio a crise interna e barreiras no Ocidente

Com dificuldades no mercado doméstico e pressão dos EUA e Europa, gigantes da tecnologia e do varejo da China veem no Brasil um novo polo estratégico

Bandeiras do Brasil e da China (Foto: Reuters/Tingshu Wan)
Otávio Rosso avatar
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247 - Diante do aumento das barreiras comerciais nos Estados Unidos e na Europa, empresas chinesas estão voltando seus olhos para novos mercados — e o Brasil tem se destacado como prioridade. Segundo reportagem do The New York Times, companhias de tecnologia, comércio eletrônico e delivery do país asiático estão investindo pesado para conquistar consumidores brasileiros e estabelecer operações sólidas por aqui. As informações são da Folha de S. Paulo.

A busca por expansão global ganhou urgência à medida que o mercado interno chinês enfrenta estagnação. A crise no setor imobiliário diminuiu o apetite do consumidor local, enquanto tensões comerciais com o Ocidente tornaram mais caro e difícil exportar para os EUA e União Europeia — tradicionalmente os principais destinos das exportações chinesas. Como reflexo, empresas como Meituan, Shein, Temu, Mixue, Didi e TikTok Shop escolheram o Brasil como base de operações na América do Sul.

“As empresas chinesas estão achando mais difícil crescer domesticamente”, explicou Vey-Sern Ling, consultor de ações do banco Union Bancaire Privée, em Singapura. “Exportações e expansão internacional são uma maneira de sustentar o crescimento contínuo.”

A Meituan, líder em entregas de comida na China, anunciou em maio que investirá US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5,5 bilhões) para iniciar suas atividades no Brasil. A empresa ficou conhecida por sua estratégia agressiva de preços e já mostrou sua capacidade de dominar mercados, como fez com a plataforma Keeta em Hong Kong e na Arábia Saudita. Analistas esperam que repita a fórmula em solo brasileiro: operar com prejuízo no início para conquistar rapidamente participação de mercado. “Quando as empresas chinesas vão para o exterior, ganhar dinheiro é a prioridade secundária — elas querem dominar o mercado primeiro”, observou Heatherm Huang, cofundador da Measurable AI.

Outras empresas seguem o mesmo caminho. A Mixue, maior rede de fast food do mundo em número de lojas, informou que contratará milhares de funcionários no Brasil. Já a TikTok Shop, plataforma de e-commerce do TikTok, estreou no país em maio, após enfrentar restrições nos Estados Unidos e Reino Unido por conta de sua ligação com a China.

A movimentação chinesa coincide com um momento de intensificação das relações bilaterais entre Brasil e China. O comércio entre os dois países praticamente dobrou na última década, com trocas de commodities como soja e manufaturados como eletrônicos e veículos. No mês passado, empresas chinesas anunciaram novos investimentos de cerca de US$ 4,7 bilhões (R$ 2,8 bilhões) no Brasil, incluindo projetos nas áreas de mineração, energia renovável e indústria automotiva. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também se reuniu com Xi Jinping em Pequim, defendendo uma relação estratégica que sirva como contrapeso à influência dos Estados Unidos.

“A relação entre os dois países é realmente boa, e a expectativa é que continue assim por um bom tempo”, avaliou Jianggan Li, CEO da consultoria singapurense Momentum Works.

O Brasil já se tornou um terreno fértil para empresas chinesas de consumo. A Shein, por exemplo, tem três centros de distribuição na região de São Paulo e é uma das líderes no varejo de moda online no país. A Didi, que comprou a brasileira 99 em 2018, se firmou como uma das maiores plataformas de transporte por aplicativo. E a Temu, ligada à gigante Pinduoduo, vem atraindo brasileiros com promessas de descontos de até 70% — estratégia similar à usada nos Estados Unidos antes de mudanças regulatórias.

Nos EUA, o governo Trump encerrou recentemente uma política que permitia a entrada de produtos de baixo valor da China sem impostos. A União Europeia discute medida semelhante. Já no Brasil, o cenário ainda é mais brando: desde 2023, compras internacionais abaixo de US$ 50 passaram a ser taxadas em 20%, percentual ainda bem inferior ao imposto americano atual.

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