Brasil concentra 10% das reservas de minerais críticos, mas produção segue mínima
País responde por apenas 0,09% da oferta global
247 - A transição energética, apontada como fundamental para conter o aquecimento global, deverá multiplicar em seis vezes a demanda mundial por minerais críticos até 2040, segundo projeções internacionais. Insumos como lítio, níquel, grafite e terras raras são considerados essenciais para essa mudança. O Brasil, dono de cerca de 10% das reservas globais, encontra-se em posição estratégica, mas ainda explora apenas uma fração desse potencial.
De acordo com reportagem publicada pelo jornal O Globo, dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) mostram que a produção nacional representa apenas 0,09% da oferta mundial. O desafio, afirmam especialistas, é transformar a abundância de recursos em capacidade produtiva, respeitando critérios de sustentabilidade e competitividade internacional. O Ministério de Minas e Energia (MME) reforça que a prioridade é garantir que a exploração seja realizada em bases “sustentáveis, competitivas e transparentes, respeitando a legislação vigente e o interesse nacional”.
Produção limitada e investimentos em curso
Apesar das vastas reservas, a produção brasileira permanece tímida frente a grandes produtores. Em 2024, segundo a agência de pesquisa geológica dos Estados Unidos (USGS), o Brasil extraiu apenas 20 toneladas de terras raras, enquanto a China alcançou 270 mil toneladas. No caso do lítio, a extração brasileira foi de 10 mil toneladas, número distante das 88 mil toneladas produzidas pela Austrália.
Ainda assim, o setor movimenta cifras relevantes. No primeiro semestre de 2025, o segmento de minerais críticos e estratégicos registrou faturamento de R$ 21 bilhões, alta de 41,6% em relação ao mesmo período de 2024. As exportações chegaram a US$ 3,64 bilhões, com crescimento de 5,2%. O resultado reflete a atuação de mineradoras como a canadense Aclara e a Serra Verde, que iniciaram operações em Goiás.
Para os próximos cinco anos, o Ibram projeta investimentos de US$ 18,45 bilhões em exploração. No entanto, cada projeto leva, em média, uma década para sair do papel devido a exigências legais e licenças ambientais, o que coloca o Brasil em atraso diante da corrida global por esses recursos.
Avanços institucionais e entraves
A Política Nacional de Minérios Críticos e Estratégicos (PNMCE) ainda está em construção. Um de seus pilares é o Projeto de Lei 2.780/2024, relatado pelo deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), que deve ser votado até o fim do ano. Paralelamente, o Conselho Nacional de Política Mineral (CNPM), esquecido pelo Executivo por três anos, tem previsão de instalação em outubro.
O setor, contudo, enfrenta obstáculos. A Agência Nacional de Mineração (ANM) foi alvo de investigação da Polícia Federal em setembro, em operação que desmantelou um esquema de corrupção. Além disso, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) mapeou apenas 27% do território nacional, evidenciando uma lacuna no conhecimento sobre o potencial mineral.
O MME afirma que o SGB tem acelerado a identificação de jazidas. Pesquisas apontam que o Brasil possui amplas reservas de minerais críticos para setores como energia renovável, defesa, fertilizantes e tecnologia de ponta.
Sustentabilidade e agregação de valor
A nova política nacional terá dois eixos centrais. O primeiro é a exploração ambientalmente sustentável, condição indispensável para a competitividade internacional. Maurício Ângelo, diretor-executivo do Observatório da Mineração, destaca: “O Brasil tem a oportunidade de adotar um modelo de mineração sem abrir mão de um licenciamento ambiental efetivo e prudente dos projetos”.
O segundo eixo é a agregação de valor. O MME defende que o país reduza sua dependência da exportação de matérias-primas, fortalecendo seu papel nas cadeias globais de valor. Isso significa atrair empresas capazes de transformar os minerais em produtos de alto valor agregado, como baterias para veículos elétricos, turbinas eólicas e sistemas de armazenamento de energia.
Segundo o Ibram, a presença de reservas não é suficiente para garantir competitividade: será necessário investir em infraestrutura, energia confiável, capacitação de mão de obra e incentivos fiscais. O projeto de lei prevê benefícios para empresas que instalarem unidades produtivas no Brasil, mediante contrapartidas em inovação, geração de empregos, sustentabilidade e desenvolvimento tecnológico.