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Banco Central vê melhora no cenário da inflação, diz ata do Copom

Apesar da melhora, colegiado afirma que política monetária seguirá restritiva por período prolongado

Sede do Banco Central em Brasília-DF - 29/10/2019 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

247 - A ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) reforça que, apesar de sinais de melhora no ambiente inflacionário, o Banco Central não pretende flexibilizar a política de juros no curto prazo. A taxa Selic foi mantida em 15% ao ano — o maior nível em quase duas décadas — e o colegiado afirmou que continuará atuando com cautela.

O documento, divulgado nesta terça-feira (16), detalha que o Copom optou pela quarta manutenção consecutiva da taxa básica de juros nesse patamar. Segundo o Banco Central, a estratégia segue ancorada na necessidade de garantir a convergência da inflação para a meta, mesmo diante de sinais iniciais de desaceleração da economia.

Na avaliação do comitê, as expectativas de inflação apresentam trajetória de queda, mas continuam acima do objetivo estabelecido pelo regime de metas. Conforme registrado na ata, “as expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes seguiram trajetória de declínio, mas permanecem acima da meta de inflação em todos os horizontes (...)”. O texto acrescenta que, para o colegiado, “perseverança, firmeza e serenidade na condução da política monetária [de juros] favorecerão a continuidade desse movimento, importante para a convergência da inflação à meta com menor custo”.

O Copom também enfatizou que o atual contexto exige uma postura mais rigorosa. De acordo com o documento, “em um ambiente de expectativas desancoradas, como é o caso do atual, exige-se uma restrição monetária [juro alto] maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”. Mesmo reconhecendo avanços no combate à inflação, o Banco Central reiterou que seguirá “vigilante” e que não hesitará em retomar o ciclo de alta dos juros, se considerar necessário.

Política monetária cautelosa

A ata destaca que a condução cautelosa da política monetária já começa a produzir efeitos sobre a inflação. O Banco Central reafirmou seu “firme compromisso” com o cumprimento da meta e avaliou que o cenário atual demanda uma política “significativamente contracionista por período bastante prolongado”.Além disso, o texto aponta que os principais vetores inflacionários seguem desfavoráveis. Segundo o BC, a autoridade monetária continuará monitorando de perto “o ritmo da atividade econômica, fundamental na determinação da inflação, em particular da inflação de serviços; as expectativas de inflação, que se mantêm desancoradas e são determinantes para o comportamento da inflação futura; o repasse do câmbio para a inflação; o balanço de riscos; e a própria dinâmica da inflação corrente”.

Desaceleração econômica como parte da estratégia

O documento também reforça que a desaceleração do crescimento econômico faz parte da estratégia de combate à inflação. Com menor ritmo de atividade, especialmente no setor de serviços, a tendência é reduzir pressões sobre os preços.

Na ata, o Copom informou que o chamado “hiato do produto” permanece positivo, indicando que a economia ainda opera acima de seu potencial. Ainda assim, o colegiado observou sinais de moderação. “A atividade econômica doméstica manteve trajetória de moderação no crescimento, tal como antecipado pelo Comitê”, afirma o texto. O BC acrescentou que os dados mais recentes do PIB mostram desaceleração no consumo das famílias, após um período de forte expansão impulsionado por ganhos reais de renda.

Sistema de metas e horizonte de atuação

O Banco Central atua com base no sistema de metas de inflação, que desde o início de 2025 passou a operar no modelo de meta contínua. O objetivo central é de 3%, com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%. Como a inflação permaneceu por seis meses consecutivos acima da meta, a instituição foi obrigada a divulgar uma carta pública explicando os motivos do descumprimento.

Ao definir a taxa Selic, o BC considera as projeções futuras de inflação, e não apenas os índices mais recentes. Isso ocorre porque os efeitos das mudanças nos juros costumam se espalhar pela economia ao longo de um período que pode variar de seis a 18 meses. No momento, a autoridade monetária já projeta o comportamento dos preços tendo como referência o segundo trimestre de 2027.

Cenário externo, mercado de trabalho e política fiscal

No campo internacional, o Banco Central avaliou que o ambiente segue incerto, embora menos volátil do que nos meses anteriores. Conforme a ata, “ainda que muitos riscos latentes persistam, o cenário internacional está menos incerto do que esteve há alguns meses, com o fim do ‘government shutdown’ nos EUA e evolução de negociações comerciais”.O mercado de trabalho também segue no radar do Copom. O comitê concluiu que o setor permanece aquecido, com sinais iniciais de desaquecimento. “Concluiu-se que o mercado de trabalho está em patamar bastante apertado, que há sinais incipientes de desaquecimento e que a compreensão da separação entre fatores conjunturais e estruturais deve continuar a ser aprofundada”, diz o texto.

Por fim, a ata voltou a destacar a importância da política fiscal para o equilíbrio macroeconômico. O BC ressaltou que os gastos públicos influenciam a demanda no curto prazo e podem afetar a percepção sobre a sustentabilidade da dívida no longo prazo. Segundo o Copom, “as políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas”, reforçando a necessidade de harmonia entre as políticas fiscal e monetária para o controle da inflação.

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