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      Após isenções do tarifaço, setores ainda atingidos buscam socorro diante de crise nas exportações

      Café, carnes e pescados enfrentam alta de tarifas dos EUA e cobram medidas urgentes para evitar demissões e perda de mercado externo

      Café (Foto: Mohammad Khursheed / Reuters)
      Luis Mauro Filho avatar
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      247 - Setores estratégicos do agronegócio brasileiro entraram em estado de alerta diante da decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos como carnes, café e pescados. A medida entra em vigor no próximo dia 6 de agosto e ameaça provocar uma onda de prejuízos para exportadores nacionais, além de cortes de empregos em diversas cadeias produtivas.

      De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, representantes das indústrias mais afetadas vêm pressionando o governo brasileiro por ações diplomáticas urgentes e mecanismos emergenciais de apoio econômico. A avaliação geral é de que a resposta oficial tem sido lenta diante da gravidade do impacto.

      Café: dependência do mercado americano

      O diretor técnico do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), Eduardo Heron, afirmou que “nós dependemos do governo, de diplomacia”. Ele acrescentou que há interesse por parte de entidades do setor cafeeiro nos EUA em encontrar uma solução negociada, mas que os dois governos “estão demorando em negociar”.

      Heron defende que não há, no curto prazo, possibilidade de substituição do café brasileiro pelos concorrentes. “O Brasil tem 34% do mercado dos Estados Unidos. É o maior fornecedor. Quando você olha, o segundo maior fornecedor de café para os Estados Unidos é a Colômbia, que tem 20%”, explicou. Segundo ele, “a Colômbia vendeu, para todo o mundo, 12 milhões de sacas” em 2023, ao passo que “nós vendemos 8 milhões de sacas só para eles”. Ou seja, os colombianos não teriam como preencher essa lacuna rapidamente.

      Apesar do novo cenário, o Cecafé informa que “não tem havido suspensão de embarque ou carga parada até o momento”. O setor, no entanto, segue monitorando a situação com preocupação, já que a alíquota sobre o café exportado subirá de 10% para 50%.

      Indústria pesqueira: risco de colapso e apelo por crédito

      O presidente da Abipesca (Associação Brasileira da Indústria da Pesca), Eduardo Lobo, declarou que o setor vive uma situação de “alerta máximo”. Segundo ele, “ou o governo faz uma linha de crédito urgentemente, ou vai ter uma avalanche de fechamento de empresas e demissões”.

      A Abipesca protocolou há mais de uma semana um pedido formal de linha emergencial de crédito de R$ 900 milhões junto ao governo federal, sem resposta até agora. Lobo relata que, se nada for feito, o segmento começará a cortar cerca de mil empregos a cada 15 dias. “O governo está sendo passivo neste momento, precisa dar a mão para gente”, criticou.

      A cadeia da pesca brasileira emprega diretamente cerca de 5 mil pessoas na indústria e outras 20 mil em embarcações, majoritariamente localizadas no Nordeste. O setor movimenta R$ 20 bilhões anualmente, com US$ 600 milhões voltados à exportação — sendo entre 70% e 80% direcionados aos Estados Unidos, o principal destino do pescado brasileiro, diante das barreiras sanitárias da União Europeia.

      No caso da tilápia, por exemplo, 25% da produção nacional é exportada e, desse total, 95% têm como destino o mercado americano.

      Carnes: queda brusca nas exportações

      No setor de carnes bovinas, os efeitos da medida de Trump já começaram a se materializar mesmo antes da elevação tarifária. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) revelam que as exportações brasileiras para os EUA despencaram 80% entre abril e julho deste ano. Em abril, foram embarcadas 47,8 mil toneladas. Em junho, o volume caiu para 18,2 mil toneladas, e neste mês, não passa de 9,7 mil toneladas.

      Apesar da redução nas remessas, o preço da carne brasileira no mercado americano subiu: de US$ 5.200 por tonelada em abril para US$ 5.850 nesta semana. A alta de 12% no valor médio, no entanto, não compensa o baque no volume exportado.

      Para evitar prejuízos ainda maiores, algumas cargas foram redirecionadas a portos americanos diferentes, com o objetivo de antecipar a chegada antes da data-limite para a nova tarifação.

      A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) calcula que a queda nas vendas de carne para os EUA pode chegar a 47%, enquanto no caso do café, a retração estimada é de 25%.

      Marfrig suspende produção voltada aos EUA

      Em Mato Grosso, a gigante Marfrig interrompeu temporariamente a operação de seu complexo de Várzea Grande, voltado exclusivamente à exportação de carne bovina para os Estados Unidos. A empresa informou ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) que a paralisação, iniciada em 17 de julho, ocorreu por “motivos comerciais”. O retorno das atividades ainda não tem data marcada.

      Pressão sobre o governo e a diplomacia

      A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) também se manifestou, pedindo que o governo federal adote uma postura mais ativa. Em nota, a entidade afirmou que “é momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações”. A FPA defende o fortalecimento dos canais bilaterais e rechaça qualquer tipo de retaliação imediata, como a aplicação da reciprocidade, que poderia dificultar ainda mais o diálogo com Washington.

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