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'Não é hora de negociar, é hora de implementar', diz o chefe da ONU na Cúpula do Clima, em Belém

Cúpula busca reunir líderes de diversos países para dar peso político às negociações que se seguirão pelas próximas duas semanas de COP30

O secretário-geral da ONU, António Guterres, discursa - 06/11/2025 (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)

Pedro Rafael Vilela - Enviado Especial - Agência Brasil

A necessidade urgente de mobilização de recursos financeiros para que os países mais pobres e em desenvolvimento possam promover uma transição energética e alcançar as metas climáticas do Acordo de Paris deu o tom do discurso do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o português António Guterres, na abertura da Cúpula do Clima, em Belém.

O evento antecede a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que será realizada de 10 a 21 de novembro na capital paraense. Na avaliação de Guterres, o momento não é mais de negociação, mas de implementação dos compromissos assumidos nas últimas décadas.

"Precisamos demonstrar um caminho claro para podermos chegar a US$ 1,3 trilhão em financiamento climático a países em desenvolvimento, até 2035, conforme decidido na COP de Baku. Os países envolvidos têm que liderar para mobilizar esses investimentos, para que eles possam oferecer financiamentos acessíveis. Não é mais tempo de negociar, estamos na hora de implementar, implementar e implementar", afirmou.

Sobre esse desafio, as presidências da COP29 do Azerbaijão e da COP30 do Brasil anunciaram, na última quarta-feira (5), um plano estratégico para levantar esse mínimo de US$ 1,3 trilhão por ano em financiamento climático pelos próximos dez anos. É o chamado Mapa do Caminho Baku-Belém, que prevê uma série de mecanismos tributários e financeiros para alocar os recursos.

Em seu discurso, Guterres lembrou que, no ano passado, os investimentos em energias renováveis superaram em US$ 800 milhões o valor destinado a combustíveis fósseis, como petróleo e carvão. Segundo ele, é preciso romper com lobbies do segmento que é o maior responsável pela emissão de gases poluentes que aquecem a atmosfera do planeta.

"Os combustíveis fósseis ainda levam muitos subsídios dos contribuintes, muitas empresas e corporações estão lucrando cada vez mais com a devastação ambiental, com bilhões sendo gastos com lobbies para enganar o público e obstruir o progresso. E muitos líderes globais ainda se mantêm em linha com esses interesses", observou o chefe da ONU.

"Sempre defendi contra mais explorações de combustíveis fósseis como também de plantas de carvão. Na COP de Dubai [2023], os países se comprometeram a fazer a transição, sem aquela lavagem verde mais, e precisamos realmente entrar em ação, enquanto trabalhamos e apoiamos os países em desenvolvimento que ainda dependem desses combustíveis fósseis. Precisamos superar barreiras estruturais para que os países em desenvolvimento possam entregar e apresentar seus compromissos de NDCs [metas de redução de emissões poluentes]", prosseguiu Guterres.

Na prática, a Cúpula do Clima busca reunir líderes de diversos países para dar peso político às negociações que se seguirão pelas próximas duas semanas de COP. A cada ano, um país recebe a Conferência do Clima, que tem como principal missão buscar formas de implementar a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês). Esse documento foi adotado por diversos países em 1992, justamente em uma conferência no Brasil, a Eco-92, no Rio de Janeiro.

Desde então, a meta geral passou a ser a de estabilizar a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Esse compromisso foi reforçado há dez anos, com o Acordo de Paris, que abrangeu a quase totalidade de países no compromisso de limitar o aquecimento global a 1,5º C.

A Cúpula do Clima em Belém reúne dezenas chefes de Estado e de governo, até esta sexta-feira (7). Em discurso de abertura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também defendeu a superação dos combustíveis fósseis e enfatizou a necessidade de os países levarem a sério os alertas da ciência sobre o clima.

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