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Lula defende ‘integrar florestas aos PIBs dos países do Sul Global’

Presidente lança fundo internacional que propõe nova lógica econômica para preservação das florestas tropicais

Lula (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

247 - Em discurso no lançamento do Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que as florestas passem a ser contabilizadas como parte do Produto Interno Bruto (PIB) dos países do Sul Global. O evento, realizado em Belém (PA), marcou o início de uma iniciativa inédita que busca garantir protagonismo às nações tropicais na agenda climática internacional.

O fundo representa um marco de cooperação entre países que abrigam as principais florestas do planeta — como as bacias do Amazonas, do Congo e de Bornéu-Mekong. “As florestas valem mais em pé do que derrubadas. Elas deveriam integrar o PIB dos nossos países”, afirmou Lula.

Protagonismo do Sul Global na agenda climática

Lula destacou que o TFFF nasce com o objetivo de reposicionar os países do Sul Global como atores centrais na luta contra a mudança climática, rompendo com o modelo de dependência de doações externas. “Os fundos verdes e climáticos internacionais não estão à altura dos desafios que a mudança climática nos coloca”, afirmou o presidente, enfatizando que o novo mecanismo busca corrigir desigualdades históricas.

Segundo ele, o TFFF será financiado por investimentos soberanos de países desenvolvidos e em desenvolvimento, com um modelo de capital misto que permitirá aplicar recursos em ações e títulos. Os lucros gerados serão distribuídos entre os países de florestas tropicais e os investidores, permitindo que os governos nacionais sustentem programas soberanos de longo prazo.

Recursos diretos e valorização dos povos da floresta

Um dos pontos centrais do projeto é a destinação direta dos recursos aos governos e comunidades locais. “Cuidar dos seringueiros, extrativistas, mulheres e povos indígenas é cuidar das florestas”, ressaltou Lula. Pelo modelo proposto, 20% dos recursos do fundo poderão ser destinados a povos indígenas e comunidades tradicionais, reconhecendo seu papel essencial na preservação ambiental.

Além disso, o TFFF contará com governança compartilhada entre países investidores e países de florestas tropicais, com participação de especialistas e representantes da sociedade civil. O monitoramento será feito anualmente por satélite, com o objetivo de manter o desmatamento abaixo de 0,5% e contabilizar áreas reflorestadas.

Brasil assume liderança e aporte inicial

O Brasil será o primeiro país a investir no fundo, com um aporte inicial de US$ 1 bilhão, anunciado por Lula durante evento em Nova York. O Banco Mundial será o responsável por hospedar o mecanismo financeiro e o Secretariado Interino do TFFF, enquanto o governo brasileiro busca envolver também o Novo Banco de Desenvolvimento (dos BRICS), o Banco Africano e outros bancos regionais.

De acordo com o presidente, a meta é permitir que cada país participante possa receber até US$ 4 por hectare preservado — valor que, embora pareça modesto, representa uma oportunidade de financiamento para 1,1 bilhão de hectares de florestas tropicais distribuídas em 73 países em desenvolvimento.

Um novo paradigma para o futuro das florestas

Lula ressaltou que o TFFF representa um dos principais legados práticos rumo à COP30, que também será realizada em Belém. “É simbólico que a celebração do seu nascimento seja feita aqui, rodeada de sumaúmas, açaizeiros, andirobas e jacarandás”, afirmou, em tom emocionado.

Encerrando o discurso, o presidente citou o seringueiro e ambientalista Chico Mendes, reforçando o sentido humano e global da iniciativa: “No começo pensei que estava lutando para salvar as seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade”.

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