André Corrêa do Lago vê o Brasil como ponte entre petróleo e energia limpa
Presidente da COP30 reforça que todos os produtores de petróleo já concordaram em reduzir o uso de combustíveis fósseis
247 – O presidente da 30ª Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-30), André Corrêa do Lago, afirmou neste domingo (9) que o Brasil, por ser um país petrolífero, ocupa uma posição “especial” para liderar o debate global sobre o fim dos combustíveis fósseis. A declaração foi feita durante conversa com jornalistas em Belém, reportada pelo Estado de S. Paulo, onde será realizada a conferência em 2025.
Segundo Corrêa do Lago, o desafio é encontrar uma “fórmula” que viabilize o consenso entre países produtores e consumidores de petróleo. “A sociedade brasileira está debatendo muito esse papel do Brasil no mundo. Não é que o Brasil tenha um plano totalmente definido e queira seguir diretamente em uma única direção, mas acredito que a discussão é realmente necessária. E a verdade é que todos os países produtores de combustíveis fósseis concordaram em fazer a transição do petróleo”, afirmou o diplomata.
Brasil no centro da transição energética
O posicionamento de Corrêa do Lago ocorre dias após o presidente Lula ter defendido, durante a Cúpula de Líderes que antecedeu a COP-30, a criação de um “mapa do caminho” rumo ao fim do uso dos combustíveis fósseis. Apesar de apoiar novas frentes de exploração no País, Lula ressaltou que o lucro do petróleo deve financiar a transição energética e a expansão de fontes limpas, como o etanol.
A CEO da COP-30, Ana Toni, lembrou que durante a COP-28, em Dubai, os países se comprometeram a realizar uma transição “justa, ordenada e equitativa”. Segundo ela, o mundo já discute modelos que possam garantir uma transição climática que não deixe populações e economias dependentes de fósseis para trás.
Desafio diplomático global
Corrêa do Lago reconheceu que a eliminação dos combustíveis fósseis é um dos pontos mais sensíveis e divisivos das negociações climáticas. Em entrevista concedida ao Estadão na sexta-feira anterior, o embaixador destacou que o tema está “no radar” da presidência da COP-30 e será um dos grandes desafios da conferência.
“A questão é nós encontrarmos uma fórmula, uma fórmula que permita tratar de um tema que divide tanto a negociação de clima e, sobretudo, um ambiente de preocupação de vários países produtores de fósseis”, declarou.
Neste domingo, Corrêa do Lago voltou a abordar o assunto e admitiu que ainda é “um grande mistério” como o tema será tratado em Belém.
Responsabilidade compartilhada
Um dos princípios fundamentais da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima é o de “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” — segundo o qual os países desenvolvidos, por terem contribuído historicamente mais para a crise climática, devem “puxar a fila” das transformações necessárias.
Embora o fim dos combustíveis fósseis ainda não esteja formalmente previsto na agenda da COP-30, cresce a pressão internacional e da sociedade civil para que o assunto entre no centro das negociações.
Com a conferência marcada para Belém, em 2025, o Brasil terá diante de si o desafio de equilibrar sua condição de potência ambiental e produtor de petróleo, articulando consensos em um cenário global cada vez mais polarizado sobre o futuro energético do planeta.


