Trump redefine relação com o Brasil e enquadra Rubio, avalia Planalto
Diálogo entre Trump e Lula indica que Rubio, próximo ao bolsonarismo, seguirá diretrizes da Casa Branca nas negociações sobre tarifas
247 - O governo brasileiro avalia que a postura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em relação ao Brasil sofreu uma mudança significativa nas últimas semanas . Com isso, integrantes do Palácio do Planalto e do Itamaraty acreditam que o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, terá pouca margem de manobra para interferir nas negociações sobre tarifas e sanções contra autoridades brasileiras. As informações são do g1.
Até o momento, Trump não indicou quais serão as contrapartidas exigidas para a flexibilização do chamado “tarifaço” e das sanções. A expectativa é que, nos próximos dias, o presidente americano se reúna com Rubio e defina oficialmente os parâmetros das negociações.
Canal direto entre Lula e Trump destrava diálogo
Marco Rubio, conhecido por seu perfil ideológico e crítico a governos de esquerda, além de ter histórico de interlocução com o bolsonarismo, era visto por analistas como um possível obstáculo às negociações. No entanto, fontes do governo brasileiro reforçam que “a única figura que dá a linha no governo americano é Donald Trump e que Rubio cumpre exatamente tudo aquilo que o presidente determina”.
Um auxiliar de Lula destacou que, durante o telefonema entre os presidentes, “essa troca de contatos mostra que o Rubio não vai ter como dar o tom dessa conversa”. Segundo ele, “Rubio e sua equipe pararam de postar coisas contra o Brasil, o que mostra certo enquadramento. É um indício de que a Casa Branca continuará conduzindo as negociações. Rubio não vai poder criar problema".
Fontes ouvidas pela reportagem ressaltaram que o telefonema entre Lula e Trump foi organizado diretamente pela Casa Branca, sem envolvimento do Departamento de Estado, reforçando a centralização da condução da política externa americana. Para viabilizar a ligação, a embaixada dos Estados Unidos no Brasil atuou como intermediária com o Palácio do Planalto.
Relação de Rubio com o Brasil
Marco Rubio mantém relação de longa data com o chanceler Mauro Vieira, desde o período em que era senador e Vieira atuava como embaixador em Washington. Os dois se encontraram presencialmente em julho deste ano e têm mantido contatos por mensagens. Apesar disso, apoiadores de Bolsonaro se comunicam com integrantes do segundo escalão do Departamento de Estado e outros órgãos, sem contato direto com Rubio.
Fatores da mudança de postura de Trump
O governo brasileiro aponta três fatores que explicam a mudança de postura do presidente americano: a atuação diplomática brasileira, a pressão do setor privado e a percepção de que a tática de pressionar o Judiciário brasileiro não surtiu efeito.
Fontes do Palácio do Planalto ressaltam que bolsonaristas tentaram convencer Trump de que haveria forte mobilização contra o governo Lula e o Supremo Tribunal Federal (STF), o que poderia favorecer o julgamento de Jair Bolsonaro (PL) ou até mesmo a aprovação de uma anistia. Nada disso se concretizou. O debate sobre anistia e redução de penas para os condenados pela trama golpista no Congresso perdeu força, enquanto a imagem do governo Lula foi fortalecida.
"Cavalo de pau"
Um diplomata brasileiro afirmou que “eles não têm como dar um 'cavalo de pau' no tarifaço, mas estão criando as condições para recuar. Pode demorar, se estender até as eleições de 2026, mas pode ser que no curto prazo já haja algum alívio”, referindo-se à possibilidade de Trump ampliar a lista de produtos brasileiros sem incidência da sobretaxa de 50%.