HOME > Brasil

'Tresloucados brasileiros no exterior não intimidarão a PF', diz diretor-geral

Andrei Rodrigues, da PF, criticou bolsonaristas que tentam intimidar investigações sobre trama golpista

Andrei Passos Rodrigues (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

247 - O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, 55 anos, afirmou que a pressão internacional de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) e eventuais interferências do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não intimidarão a corporação. Em entrevista à Folha de S. Paulo, durante o 2º Fórum Futuro da Tributação, realizado em Lisboa, Rodrigues afirmou que esse tipo de tentativa de ingerência é "um momento que há de passar" e que as ameaças à PF por parte de "tresloucados brasileiros" no exterior só fortalecem a determinação da instituição.

"Esse momento vai passar", diz chefe da PF sobre Trump

Questionado sobre uma possível retaliação dos EUA, como a sofrida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, Rodrigues minimizou. "Esse é um momento que há de passar, de um outro país achar que pode intervir em questões internas do Brasil. Ou de tresloucados brasileiros que viajam para o exterior acreditando que irão ameaçar ou intimidar e que com isso irão fazer com que a gente deixe de cumprir nosso papel", afirmou sem citar o nome do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do influenciador bolsonarista Paulo Figueiredo.

Eduardo e Figueiredo residem nos Estados Unidos e atuam junto a integrantes do governo Donald Trump visando à imposição de sanções contra o Brasil e autoridades brasileiras visando influenciar o resultado do julgamento de Jair Bolsonaro. O ex-mandatário foi condenado pela Primeira Turma do STF a cumprir uma pena de 27 anos e três meses de prisão por tramar um golpe de Estado após perder o pleito presidencial de 2022.

Tecnologia foi decisiva para elucidar atos golpistas

Rodrigues ressaltou que a investigação dos atos de 8 de janeiro, que resultou na condenação de Jair Bolsonaro e de outros sete réus, só foi possível graças ao uso intensivo de tecnologia. Foram analisados terabytes de dados obtidos em celulares, computadores e documentos digitalizados. "Usamos ciência, usamos tecnologia, mas usamos também o essencial, a nossa alma, o nosso profissional", disse.

Críticas às delações e provas robustas apresentadas

O chefe da PF também rebateu críticas de que as conclusões da investigação se basearam excessivamente na delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator da trama golpista. "Antes da delação vêm as câmeras de segurança, depois as estações de rádio-base, e a isso se soma a colaboração premiada. Não basta só a delação, houve todo esse encadeamento que chegou a produzir uma prova", afirmou. Segundo ele, ministros do Supremo Tribunal Federal elogiaram a consistência das provas apresentadas.

Na entrevista, Rodrigues também comparou crimes financeiros do passado com as operações atuais, destacando o impacto das fintechs e criptomoedas. "Em 2005, assaltantes escavaram um túnel para levar milhões do Banco Central. Hoje, com um computador e uma boa rede de internet, se desvia R$ 1 bilhão com dois ou três cliques", disse. Em 2024, a PF bloqueou R$ 6,5 bilhões em operações, incluindo R$ 1,5 bilhão apenas em esquemas de lavagem de dinheiro via fintechs.

Integração internacional e cooperação entre órgãos

O diretor ainda sublinhou a importância da integração entre instituições, citando a Operação Carbono Oculto, realizada em parceria com a Receita Federal, que desvendou um complexo esquema patrimonial com uso de offshores e fundos de investimento.

Rodrigues concluiu destacando que todos os 49 mil inquéritos da PF hoje são digitais e que o desafio do corpo policial é saber explorar essa base de dados para manter a eficácia das investigações.

Artigos Relacionados

Carregando anúncios...