Polícia prende suspeito de ser atirador na execução de ex-delegado Ruy Ferraz Fontes
Homem de 47 anos foi detido no litoral paulista; polícia investiga elo com facção e licitação milionária em Praia Grande
247 -A Polícia Civil de São Paulo prendeu nesta terça-feira (21) um novo suspeito de envolvimento no assassinato do ex-delegado-geral do estado, Ruy Ferraz Fontes. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo. O investigado é José Nildo, de 47 anos, capturado em Itanhaém, no litoral sul paulista.
Segundo o delegado-geral Arthur Dian, o suspeito teria sido visto no dia do crime chegando a uma das residências usadas para a logística da emboscada. Ele portava um colete à prova de balas, estava armado e acompanhado de uma mulher, não localizada até o momento. “Identificamos que o indivíduo chegou por volta das 23h30 a uma residência em Itanhaém, armado e usando colete à prova de balas, acompanhado de uma mulher e de um veículo modelo Clio”, disse Dian.
Oito presos e dois foragidos
Com a captura de José Nildo, já são oito os detidos pela execução de Fontes, morto em 25 de agosto, em Praia Grande. Dois suspeitos permanecem foragidos: Luiz Antonio Rodrigues de Miranda, de 43 anos, e Flávio Henrique Ferreira de Souza, de 24 anos, cujo DNA foi identificado em um dos veículos usados na ação.
Entre os presos está Felipe Avelino da Silva, conhecido como Mascherano, apontado como chefe do PCC no ABC Paulista. Ele foi capturado em Cotia, na Grande São Paulo, após seu DNA ser encontrado em um dos carros utilizados no ataque. Também foram detidos Willian Silva Marques, dono de uma casa em Praia Grande usada pelos criminosos, e Dahesly Oliveira Pires, suspeita de buscar o fuzil empregado no homicídio.
Outros nomes confirmados pela polícia são Luiz Henrique Santos Batista, o Fofão, preso em São Vicente; Rafael Marcell Dias Simões, o Jaguar, que se entregou em setembro; Danilo Pereira Pena, apelidado de Matemático; e Cristiano Alves da Silva, conhecido como Cris Brown.
Linha de investigação
As autoridades ainda buscam esclarecer a motivação do crime. Uma das hipóteses é que Fontes tenha sido alvo por sua atuação histórica contra o Primeiro Comando da Capital (PCC). Outra frente investiga um contrato de R$ 24,8 milhões firmado pela Prefeitura de Praia Grande para ampliar o sistema de videomonitoramento e internet pública, no período em que o ex-delegado ocupava o cargo de secretário de Administração.
Cinco servidores municipais, entre eles o então subsecretário de Gestão e Tecnologia, Sandro Rogério Pardini, são investigados. Pardini deixou o cargo após a deflagração da operação. Em nota, sua defesa afirmou que “os elementos colhidos ainda estão em fase de análise” e que ele “nega veementemente toda e qualquer participação, seja ela direta ou indireta, nos fatos apurados”.
O assassinato
Ruy Ferraz Fontes foi executado no fim da tarde de 25 de agosto, enquanto dirigia seu carro em Praia Grande. Imagens de câmeras de segurança mostram o veículo da vítima perseguido por outro automóvel até colidir contra um ônibus. Na sequência, os criminosos desembarcaram e dispararam contra o ex-delegado.
Aos 64 anos, Fontes estava aposentado da Polícia Civil, mas ocupava o cargo de secretário de Administração de Praia Grande desde janeiro de 2023. Poucos dias antes de sua morte, em entrevista a O Globo, ele manifestou preocupação com a falta de proteção. “Eu tenho proteção de quem? Eu moro sozinho, eu vivo sozinho na Praia Grande, que é no meio deles. Pra mim é muito difícil. Se eu fosse um policial da ativa, eu tava pouco me importando, teria estrutura para me defender, hoje não tenho estrutura nenhuma”, disse.
Apesar da apreensão, o ex-delegado destacou que jamais havia recebido ameaças diretas do crime organizado. “Nunca teve um desenrolar negativo. No mundo do crime, existe uma ética. E essa ética é cobrada, de uma forma geral. Em que momento nós instruímos um inquérito policial e inventamos alguma prova contra eles? Nunca”, afirmou.
Trajetória
Ruy Ferraz Fontes foi delegado-geral de São Paulo entre 2019 e 2022. Durante sua carreira, chefiou divisões estratégicas como o Deic, o Denarc, o DHPP e o Decap. Ele foi um dos responsáveis pelos primeiros inquéritos que revelaram a estrutura do PCC, resultando em condenações de seus principais líderes, incluindo Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.

