Gerdau alerta sobre desaceleração do consumo de aço no segundo semestre de 2025
André Gerdau prevê queda na demanda e pressão crescente de importações, com foco nas Américas
247 - Em entrevista, André Gerdau Johannpeter, presidente do conselho de administração da Gerdau, alertou sobre a possibilidade de uma desaceleração no consumo de aço no segundo semestre de 2025.
A declaração foi dada ao Valor Econômico, na qual o executivo destacou que a redução na demanda já é perceptível entre os principais clientes industriais, incluindo setores cruciais como automotivo, máquinas e equipamentos, e eletroeletrônicos. A Gerdau, que atravessa um momento de tensão no mercado, deve lidar com um cenário de desafios impostos por fatores econômicos internos e uma crescente concorrência internacional.
O contexto econômico brasileiro, com altas taxas de juros e um crescimento do PIB abaixo das expectativas, tem pressionado a indústria nacional. Além disso, o aumento das importações de aço, especialmente da China, intensifica a competição com os produtos locais, dificultando a recuperação do setor. De acordo com André Gerdau, "a preocupação é daqui para frente. Já vemos, de alguns clientes, a redução do consumo no segundo semestre."
Com uma projeção de uma leve queda de 0,8% na produção de aço bruto para 2025, como aponta o Instituto Aço Brasil, a Gerdau enfrenta dificuldades adicionais, como a ociosidade de 35% nas siderúrgicas brasileiras. Esse nível de capacidade ociosa, acima da faixa ideal de 15% a 20%, compromete a sustentabilidade financeira das usinas locais. Para o executivo, a situação chegou a um ponto crítico: "Estamos em um ponto de quase insustentabilidade", afirmou.
A pressão da concorrência externa tem sido exacerbada pelas políticas tarifárias dos Estados Unidos, que beneficiam as siderúrgicas americanas, como a própria Gerdau. A internacionalização da empresa, que já ocorre há anos, foi considerada uma decisão acertada, com foco principal nas Américas. Embora o Brasil tenha sido historicamente um dos maiores mercados da empresa, atualmente, o melhor desempenho vem dos Estados Unidos. "Agora, os melhores resultados vêm da América do Norte", destacou o executivo.
No entanto, André Gerdau não esconde sua preocupação com as políticas comerciais brasileiras e o impacto das importações de aço chinês. "Nossa internacionalização já foi feita há muito tempo. Nosso foco é nas Américas", afirmou. Ele também se mostrou favorável à criação de um ambiente mais previsível para o setor, com a necessidade de ajustes na política industrial brasileira. "A pior coisa para o empresário é a incerteza", afirmou, sublinhando a importância de uma política de inovação e redução da carga tributária.
Por fim, o presidente da Gerdau ressaltou que o governo brasileiro precisa alinhar suas políticas econômicas e fiscais com as expectativas do setor siderúrgico. Em relação às importações de aço, ele defendeu a implementação de medidas mais rígidas para proteger a indústria nacional, já que a penetração de produtos estrangeiros no mercado brasileiro saltou de 2,2 milhões de toneladas antes da pandemia para 6,3 milhões de toneladas atualmente, representando cerca de 22% do mercado. A discussão sobre os benefícios fiscais e as tarifas comerciais, conforme explicou, tem sido um tema recorrente nas conversas entre os líderes do setor e o governo federal.