ENBPar aposta em autossuficiência nuclear brasileira a partir de 2027
Com mina de urânio no Ceará, estatal prevê triplicar produção e atender integralmente usinas de Angra
247 - A Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar) anunciou que espera alcançar a autossuficiência no ciclo do combustível nuclear a partir de 2027, com a entrada em operação da mina de Santa Quitéria, no Ceará. A informação foi divulgada pelo diretor de gestão corporativa da estatal, Leandro Xingó, durante o World Atomic Week, evento organizado pela estatal russa Rosatom. A previsão foi publicada pelo jornal Valor Econômico.
De acordo com Xingó, o projeto de Santa Quitéria, uma parceria entre as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e a empresa Galvani, deve produzir cerca de 2,3 mil toneladas anuais de concentrado de urânio. Hoje, a produção nacional está restrita à mina de Caetité, na Bahia, que fornece aproximadamente 400 toneladas por ano. Com a nova unidade, o país poderá consolidar sua posição entre os principais produtores globais do mineral estratégico.
Brasil entre as maiores reservas do mundo
O Brasil possui a sétima maior reserva mundial de urânio, com mais de 230 mil toneladas estimadas. Apesar do potencial, grande parte das jazidas ainda não foi explorada, já que o último levantamento geológico data de mais de quatro décadas. Além do projeto cearense, a estatal tem sob seu controle outras áreas que poderão ampliar a capacidade produtiva no futuro.
A expansão também inclui a segunda fase da Usina Comercial de Enriquecimento de Urânio (Uceu), em Resende (RJ). Quando concluída, a unidade permitirá suprir completamente as usinas nucleares de Angra 1, Angra 2 e, se o governo retomar as obras, Angra 3.
Custo e urgência em Angra 3
Xingó ressaltou a importância de concluir Angra 3, obra paralisada há anos. “É muito importante [terminar a construção de Angra 3] porque nós pagamos mais de R$ 100 milhões por mês só para manutenção dos equipamentos da usina. E o mundo todo está voltado para a questão dessa energia do urânio, que é uma energia limpa. E nós temos todos os potenciais”, afirmou.
O executivo destacou ainda a complementaridade da energia nuclear à matriz elétrica brasileira, que já conta com forte presença de fontes renováveis como hidrelétricas, eólicas e solares.
Inovação e novas tecnologias
Entre os objetivos estratégicos, Xingó citou a necessidade de fortalecer a pesquisa mineral prevista no Plano Nacional de Mineração 2050, atrair investimentos privados e estrangeiros e investir em novas tecnologias. Ele enfatizou o potencial dos reatores modulares pequenos (SMRs), apontados como alternativas mais flexíveis e sustentáveis.
“O Brasil também precisa olhar para o futuro da inovação. Tecnologias emergentes, como os reatores modulares pequenos (SMRs), exigirão cadeias mais flexíveis, descentralizadas e ambientalmente responsáveis. O país tem condições de estar na vanguarda desse movimento, combinando sua base científica e tecnológica com sua capacidade mineral”, afirmou.
Com a aposta em Santa Quitéria, a conclusão da Uceu e a perspectiva de retomada de Angra 3, a ENBPar projeta que o Brasil caminhe para uma posição de protagonismo no setor nuclear mundial.