China pressiona Trump a retirar restrições de investimentos
Pequim oferece pacote trilionário de aportes nos EUA em troca do fim de barreiras de segurança nacional
247 - A China intensificou a pressão sobre os Estados Unidos para que retirem as restrições de segurança nacional aplicadas a investimentos chineses em território americano. Em contrapartida, Pequim acena com um pacote trilionário de aportes, que poderia redefinir a relação econômica entre as duas maiores potências do mundo. A notícia foi divulgada pela Bloomberg.
Segundo a agência, os negociadores do presidente Xi Jinping pedem também a redução de tarifas sobre insumos importados que abasteceriam fábricas chinesas a serem construídas nos EUA. Essas propostas foram apresentadas em rodadas de conversas em Madri no mês passado, quando ambos os lados chegaram a um acordo preliminar para manter o funcionamento do TikTok no mercado americano, apesar das preocupações de congressistas sobre riscos à segurança nacional.
Investimentos trilionários e mudança de foco
Autoridades chinesas chegaram a ventilar, ainda neste ano, um pacote de US$ 1 trilhão, embora o montante atualmente discutido não esteja claro. A iniciativa marca uma mudança em relação à primeira gestão de Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, quando os diálogos giravam principalmente em torno da compra de produtos americanos, não da entrada direta de capital chinês.
O representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, afirmou à Fox Business que as discussões abordaram “o clima de investimentos nos Estados Unidos para empresas chinesas”. Já o principal negociador de Pequim, Li Chenggang, destacou que Washington teria demonstrado disposição em “reduzir barreiras ao investimento e promover cooperação econômica”.
Dias após os encontros, Xi Jinping reforçou em ligação com Trump o pedido para “criar condições favoráveis para que empresas chinesas invistam” no mercado americano.
Taiwan e outras linhas vermelhas
Entre os pontos mais sensíveis do pacote, Pequim também pressiona os EUA a rever sua postura histórica em relação a Taiwan, questão considerada inegociável em Washington. Um eventual acordo, portanto, exigiria reverter políticas restritivas aplicadas nos últimos dez anos tanto pelo governo americano quanto pelo chinês.
Embora a Casa Branca não tenha comentado diretamente sobre os novos pedidos, um porta-voz afirmou que o governo está empenhado em garantir que a China cumpra obrigações já firmadas e reiterou o foco em equilibrar as condições para trabalhadores, agricultores e empresas dos EUA.
Ceticismo e receios em Washington
Nos bastidores, a oferta chinesa divide opiniões. Matt Pottinger, ex-vice-assessor de segurança nacional na primeira gestão Trump, alertou que abrir as portas para um maciço fluxo de capital seria “equivalente aos EUA se tornarem parte da Iniciativa do Cinturão e Rota — na verdade, seu destino final”.
Especialistas avaliam que a estrutura de um possível acordo poderia seguir o modelo discutido no caso do TikTok, com empresas americanas mantendo controle das operações locais de grupos chineses.
Contexto e impacto internacional
A entrada de capital de mais de US$ 1 trilhão colocaria a China à frente de outros grandes parceiros. A União Europeia planeja US$ 600 bilhões em investimentos nos próximos quatro anos, enquanto o Japão já anunciou US$ 550 bilhões e a Coreia do Sul negocia aporte de US$ 350 bilhões.
O movimento ocorre em um momento de desaceleração da economia chinesa, marcada por queda na demanda interna e cortes em empregos. Nesse cenário, conquistar espaço no maior mercado consumidor do mundo é visto como vital para empresas do país asiático.
Apesar da proposta ousada, restam dúvidas sobre o volume exato, o modelo de implementação e os impactos sobre a segurança nacional americana. Trump e Xi deverão se encontrar ainda este mês em uma cúpula na Coreia do Sul, ocasião em que o tema deve ganhar novos contornos.