Bancários denunciam “assédio digital” em cortes do Itaú
Sindicatos acusam banco de usar monitoramento de home office para justificar mais de mil demissões
247 - A COE (Comissão Organizadora dos Empregados) do Itaú-Unibanco voltou a se reunir nesta segunda-feira (15) com a direção do banco para cobrar a reversão das recentes demissões em massa. A informação foi repercutida pelo Investing.com.
De acordo com os sindicatos, a instituição financeira estaria utilizando como justificativa um suposto “quebra de confiança” ligada ao desempenho de funcionários em regime remoto.
Segundo o Itaú, os desligamentos foram definidos após uma análise de quatro meses sobre a “atividade digital” dos empregados em home office. O banco afirmou que os casos mais críticos chegavam a registrar apenas 20% de atividade no sistema, mesmo com pedidos de horas extras nos mesmos dias. A instituição considera adequada uma média de 75%, já descontadas pausas e intervalos.
Monitoramento e contestação sindical
Na versão do Itaú, os cortes não se basearam apenas em cliques de mouse ou uso de teclado, mas também em acessos a plataformas corporativas, como videoconferências e cursos online. “Essa decisão faz parte de um processo de gestão responsável e tem como objetivo preservar nossa cultura e a relação de confiança”, declarou o banco em nota oficial.
A COE, por outro lado, classificou a prática como “assédio digital” e destacou que os empregados não tiveram oportunidade de defesa. A presidente da Contraf-CUT, Juvandia Moreira,: “Nunca fomos informados desse tipo de monitoramento e, pior, o banco não deu o direito de contestação, o direito de defesa aos funcionários”. Ela acrescentou: “Na verdade, o banco quer acabar com o teletrabalho e achou uma forma suculenta e desrespeitosa”.
Contexto dos cortes
Em 8 de setembro, mais de mil trabalhadores foram demitidos. Na reunião seguinte, em 9 de setembro, o Itaú se comprometeu a revisar apenas os casos de empregados adoecidos, mantendo os demais desligamentos sob a justificativa de “baixa aderência ao teletrabalho”.
Os sindicatos apontam contradição entre a decisão e os resultados financeiros da instituição, que registrou lucros históricos: R$ 41,4 bilhões em 2024 (alta de 16,2% em relação a 2023), além de R$ 11,1 bilhões no 1º trimestre e R$ 11,5 bilhões no 2º trimestre de 2025. Para as entidades, a ofensiva contra o home office ocorre justamente em um momento de robustez econômica do maior banco privado do país.
Disputa em torno do teletrabalho
O acordo coletivo entre bancários e Itaú prevê apenas controle de jornada e travamento do sistema ao fim do expediente, sem cláusula específica de monitoramento de desempenho remoto. Para os sindicatos, a atual postura da instituição revela uma estratégia de desmonte do teletrabalho. Já o banco sustenta que se trata de medida de gestão necessária para manter a confiança interna.