HOME > Brasil Sustentável

Periferias já atuam no combate à crise climática, mas apenas 15,9% recebem financiamento

Dados são de levantamento da Iniciativa PIPA, preparado para ser apresentado na COP30

Paraisópolis, São Paulo-SP (Foto: Espaço do Povo Paraisópolis/Divulgação)

247 - Preparado para ser apresentado na COP30, em Belém-PA, um estudo sondando 113 organizações periféricas foi divulgado pela Iniciativa PIPA na última semana. Os dados do relatório “Diretrizes para a Filantropia Climática” revelam uma profunda desigualdade racial e territorial no acesso a recursos, além de soluções locais de enfrentamento aos problemas.

O estudo mostra que as periferias brasileiras estão na linha de frente do enfrentamento à crise climática, mas continuam fora do circuito do financiamento. De acordo com o levantamento, 82,3% das organizações periféricas realizam ações ligadas à agenda climática, mas apenas 15,9% acessam recursos específicos de clima.

O estudo será apresentado na COP30 em parceria com o Coletivo MIRÍ, que se juntará a outros grupos do setor para participar de mesas e articulações ao longo do evento.

Fazendo muito com pouco

São as periferias que sustentam redes de cuidado, agroecologia, reflorestamento e soberania alimentar, mas continuam sendo as menos financiadas e as menos ouvidas pelas autoridades, tendo de recorrer a ações filantrópicas.

"As periferias, que estão entre as mais afetadas, vêm se organizando para participar das discussões e influenciar a construção dessa agenda de financiamento", diz Gelson Henrique, diretor-executivo da Iniciativa PIPA.

Informalidade

A pesquisa também mostra que 52% das organizações periféricas atuam de forma informal, sem registros formais, o que as impede de concorrer em editais e acessar os principais fundos de doação. Essa informalidade, segundo o relatório, é resultado de barreiras burocráticas e da exclusão histórica dessas iniciativas das estruturas institucionais do financiamento.

Três diretrizes

O relatório propõe três diretrizes centrais para redesenhar o financiamento climático no Brasil, com o objetivo de aproximar as práticas da filantropia das realidades dos territórios periféricos mais afetados.

•⁠ ⁠Geo-priorização dos recursos, para que o dinheiro chegue primeiro aos territórios mais vulneráveis;

•⁠ ⁠Criação de um mecanismo público de monitoramento das doações climáticas, com transparência e rastreabilidade;

•⁠ ⁠Protocolos ágeis de repasse emergencial, permitindo respostas rápidas a enchentes, ondas de calor e outros eventos extremos.

"Em conjunto, esses efeitos redistribuem poder, dinheiro e tempo: poder (decidir com os territórios), dinheiro (para onde o risco é maior) e tempo (responder na velocidade da emergência), tornando o financiamento climático mais justo e efetivo nos territórios periféricos", diz Nildamara Torres, coordenadora de Pesquisa na Iniciativa PIPA.

Artigos Relacionados