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BNDES ultrapassa R$ 660 milhões em crédito para transformar lixo em energia limpa

Com apoio do Fundo Clima, banco financia novas usinas da Gás Verde para produção de biometano e gás carbônico renovável a partir de resíduos urbanos

Geo elétrica Tamboara (Foto: Reprodução/BNDES)
Guilherme Levorato avatar
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247 - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) alcançou a marca de R$ 666,4 milhões em empréstimos aprovados desde 2023 para projetos de produção de biometano no Brasil, informa o jornal O Globo. O montante inclui dois novos financiamentos destinados à Gás Verde, empresa que atua na conversão de resíduos sólidos urbanos em gás renovável.

Esses dois empréstimos somam R$ 131 milhões e contemplam projetos em Pernambuco e no Rio de Janeiro. A maior parte dos recursos — R$ 443,3 milhões do total — vem do Fundo Clima, mecanismo federal vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, turbinado em 2024 com aporte de R$ 10 bilhões obtidos por meio da emissão de "títulos verdes" no mercado internacional pelo Tesouro Nacional.

Energia limpa a partir de resíduos - Um dos projetos financiados pelo BNDES, com R$ 90,2 milhões, prevê a construção de uma nova usina de biometano no aterro sanitário de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife. O investimento será coberto integralmente pelo financiamento, sendo R$ 72,2 milhões provenientes do Fundo Clima. A unidade transformará o biogás emitido pela decomposição do lixo em combustível renovável com propriedades semelhantes ao gás natural veicular (GNV), conforme regulamentação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

A tecnologia baseia-se em um sistema de impermeabilização e captação do gás emitido nos aterros. O solo é protegido por quatro camadas de isolamento, e o biogás, com mais de 50% de metano, é captado por tubulações que o conduzem às usinas de purificação. Após o processamento, o biometano pode substituir combustíveis fósseis em veículos e indústrias.

Segundo o CEO da Gás Verde, Marcel Jorand, o crédito oferecido pelo BNDES garante viabilidade financeira mesmo diante do cenário macroeconômico desfavorável: “sempre fomos a bancos comerciais. Este momento de juros altos ia inviabilizar os investimentos”.

Expansão da produção e novos usos - Com duas usinas em operação, a Gás Verde já produz cerca de 160 mil metros cúbicos de biometano por dia. A meta é alcançar 650 mil metros cúbicos diários até 2028, com a conversão de dez unidades termelétricas movidas a biogás em usinas de biometano. Todas elas estarão situadas em aterros sanitários distribuídos por seis estados brasileiros.

O setor ainda é pequeno no Brasil, mas mostra alto potencial de crescimento. Dados da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás) indicam que, hoje, 11 usinas no país produzem cerca de 840 mil metros cúbicos de biometano por dia. A projeção é alcançar 8 milhões de metros cúbicos diários até 2030, o que corresponderia a 15% da atual demanda nacional por gás natural, segundo a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás).

CO₂ renovável e aproveitamento máximo dos resíduos - O segundo financiamento concedido à Gás Verde, no valor de R$ 40,9 milhões (R$ 17,1 milhões via Fundo Clima), será aplicado na implantação de uma unidade de produção de gás carbônico (CO₂) verde no aterro de Seropédica (RJ), que abriga a maior usina de biometano da América Latina.

A unidade aproveitará o CO₂ gerado no processo de purificação do biogás, que atualmente é queimado. O novo sistema permitirá a separação eficiente dos gases — cerca de 50% metano e 45% CO₂ — resultando em um biometano com 95% de pureza. A expectativa é de uma produção diária de 100 toneladas de CO₂ renovável, com início das operações previsto para julho.

“O objetivo é nichar o CO₂ verde para quem quer acesso a produto 100% renovável”, afirmou Jorand. Ele também destacou que 80% da produção já está contratada, refletindo a crescente demanda por insumos com menor pegada de carbono em setores como o de bebidas, alimentos e fármacos.

Compromisso com a agenda climática - O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou que os projetos da Gás Verde “estão alinhados às ações do governo” no enfrentamento às mudanças climáticas. Ele explicou que as iniciativas contribuem para capturar CO₂ e evitar a emissão de metano. “Enquanto um deles aproveita economicamente o gás carbônico, capturando o subproduto que seria emitido como rejeito, o outro garante a produção de gás renovável, evitando emissões de metano, que tem potencial de aquecimento 25 vezes maior que o do CO2”.

Ao viabilizar o uso sustentável do lixo urbano como matéria-prima para a geração de energia e insumos industriais, os investimentos se somam a uma estratégia nacional que busca transformar desafios ambientais em soluções econômicas inovadoras.

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