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      Maria Luiza Falcão Silva

      PhD pela Heriot-Watt University, Escócia, Professora Aposentada da Universidade de Brasília e integra o Grupo Brasil-China de Economia das Mudanças do Clima (GBCMC) do Neasia/UnB. É autora de Modern Exchange Rate Regimes, Stabilisation Programmes and Co-ordination of Macroeconomic Policies, Ashgate, England.

      55 artigos

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      Trump vs. Brasil: quando as tarifas revelam a nossa colonialidade econômica

      Primeiro de agosto está aí. O relógio da soberania brasileira bate em contagem regressiva

      O presidente dos EUA, Donald Trump, fala com a imprensa na presença da procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi - 27/06/2025 (Foto: REUTERS/Ken Cedeno)

      A ameaça de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos (EUA), anunciada por Donald Trump em julho de 2025, consolidou-se como o maior desafio comercial do governo Lula. O impacto manifesta-se da Indústria de alta tecnologia ao Agronegócio  

      Setores em Colapso vs. Commodities Resilientes

      A Embraer, com “60% das receitas vinculadas à América do Norte”, enfrenta risco de queda de 46% nas vendas. Autopeças e eletrônicos (como a Weg) também sofrem, com possível "espiral de custos" por dependência de insumos norte-americanos. 

      O setor produtor de suco de laranja, com 41,7% das exportações destinadas aos EUA, alerta para "condição insustentável" e paralisações. 

      O agronegócio bolsonarista, cafezal em Minas, gado no Mato Grosso, soja, carne bovina se sente apunhalado pelas costas pelo amigo da família Bolsonaro, pelo apoio dado à sua campanha para presidente dos Estados Unidos e pelas comemorações de sua vitória com bonés ridículos estampando “MAGA” como o fez o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. 

      A China já absorve “84% das commodities brasileiras”, mas impõe redução de preços devido ao excesso de oferta global. Não é caridade, é “business”.

      A China como Ator Geopolítico


      Em resposta às tarifas, Pequim emitiu crítica formal. “Tarifas não devem ser ferramentas de coerção. Soberania e não interferência são princípios da ONU" se pronunciou Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China).

      Apesar do apoio retórico, a prática comercial chinesa mantém limites:
      - 40% das exportações brasileiras para China são soja; manufaturados representam menos de 2%.
      - Pequim sinalizou absorção parcial de excedentes de petróleo, mas por "razões geopolíticas, não econômicas".

      A Bomba Política de Trump 

      A medida foi justificada como retaliação à "caça às bruxas" contra Bolsonaro, mas gerou efeitos inesperados:
      - União nacional: críticos de Lula, como o senador Alessandro Vieira (centro), repudiaram a "agressão à soberania".
      - Fratura na direita: Estados agrícolas (base bolsonarista) pressionam por acordo, temendo perdas. Senadores como Vanderlan Cardoso (PP-GO) já articulam o “PL do Perdão”, anistiar Bolsonaro para aplacar Trump.

      - Discussão sobre a minerais críticos e terras raras, objetos de ambição do Imperador Trump, uma vez que são cruciais para a produção de alta tecnologia, incluindo supercondutores, imãs, componentes para smartphones, turbinas eólicas e veículos elétricos. 

      - Reviravolta para Lula: Aproveitando o nacionalismo, o governo ameaça reciprocidade ("Lei de Retaliação") e acelera negociações com o BRICS.

       Soberania ou Submissão? 

      A crise expôs a vulnerabilidade do modelo brasileiro. Exportamos ferro e importamos drones; vendemos soja e compramos algoritmos.

      Enquanto Trump usa tarifas para defender interesses domésticos e forma de vingança ("America First"), e China manipula commodities para ganhos geopolíticos, o Brasil precisa escolher entre continuar como "supermercado global" de recursos primários, ou usar o conflito para diversificar parcerias e reindustrializar-se.

      China e Estados Unidos brigam por hegemonia, o Brasil chora pela Embraer desmontada; reza para a China comprar mais minério e debate se rende-se a Trump.  
       

      Primeiro de agosto está aí. O relógio da soberania brasileira bate em contagem regressiva.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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