Trump declara guerra à Venezuela para desviar atenção da crise econômica americana
Escalada militar expõe fragilidade do governo americano e revela desespero imperialista diante do avanço da crise global
A velha história se repete: quando os Estados Unidos entram em perigo econômico de recessão, como alertam vários economistas americanos, nesse momento de desastre protecionista trumpista, Washington busca desviar a atenção da população fazendo guerra; é o que parece já estar acontecendo relativamente à Venezuela. O tarifaço trumpista está caindo no lombo da população americana em forma de inflação e desemprego, produzindo impopularidade ao presidente Donald Trump. Para fugir dessa sina, que expressa o aprofundamento da queda econômica do império, o titular da Casa Branca mobiliza os navios de guerra, depois de caracterizar o inimigo como perigoso à segurança dos Estados Unidos.
Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, que toca política nacionalista de viés socialista, vencedor recente de maioria esmagadora nas eleições regionais, é acusado por Trump de terrorista por estar, segundo Washington, protegendo traficantes. O prêmio pela cabeça de Maduro, prometido por Washington, em escalada ditatorial, é de 50 milhões de dólares, enquanto navios com 4,5 mil soldados americanos são deslocados para o mar do Caribe.
Claro, a atenção se volta para a fake news criada por Trump contra Maduro para esconder o fracasso do seu governo, desvalorizado, popularmente, por 60% do eleitorado em pesquisa de opinião. O tarifaço sobre, principalmente, aliados – Europa, Canadá, México, Índia, Brasil, África do Sul – vai pesar no bolso dos americanos e a inflação obrigará o Banco Central a elevar a taxa de juros. Sai pela culatra a solução imaginada de recuperar a indústria dos Estados Unidos, que perdeu competitividade para a China.
As notícias ruins não param e se acumulam: o presidente americano saiu chamuscado no encontro com Putin, que venceu a OTAN na Ucrânia, e os europeus, que o apoiaram nessa cruzada, estão desmoralizados, pedindo proteção para seu aliado derrotado, Zelensky. É desastre atrás de desastre, com os especialistas em economia ressaltando a possibilidade de desarticulação das cadeias produtivas, em escala global, em decorrência da alta geral dos preços dos insumos, que advirão do desarranjo econômico trumpista.
PÂNICO NA ELITE TUPINIQUIM
Washington, nesse contexto, coloca em pânico as elites econômicas latino-americanas pró-EUA, porque a economia, como a brasileira, por exemplo, é historicamente dependente da poupança externa para produzir bens e serviços exportáveis, diante do baixo poder de compra interno para consumir excedentes não exportáveis pelo tarifaço. No desespero, as regiões que podem ser mais afetadas, como o estado de São Paulo, cujo maior volume de exportação de manufaturados se destina aos Estados Unidos, produzem reações escalafobéticas nos seus governantes.
O governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), declaradamente pró-Trump, em gesto de desespero, propõe que se conceda “vitória” a Trump, atendendo às suas pressões protecionistas. Desse modo, segundo o governador, o chefão americano aliviaria em algum ponto, facilitando a vida dos exportadores paulistanos, que são, na verdade, empresários associados aos capitalistas americanos, em sua maioria. O Brasil, disse Tarcísio, deixaria de importar mercadorias da Rússia, como óleo diesel – que poderia estar sendo fabricado internamente, se os neoliberais não tivessem esquartejado a Petrobrás – para agradar o titular da Casa Branca. Quem sabe esse gesto de concessão faria com que Trump suspendesse tarifas protecionistas contra as indústrias paulistanas?
O pragmatismo pró-washingtoniano das elites de São Paulo demonstra o desespero que toma conta dos estados mais industrializados brasileiros, localizados na região Sul e Sudeste, onde, aliás, está o eleitorado de direita e extrema direita que elegeu o queridinho de Trump, ex-presidente Bolsonaro, para o mandato de 2018-2022. Atuando ideologicamente, Trump quer salvá-lo, fazendo chantagem contra a democracia soberana brasileira; ameaça aplicar a lei imperialista Magnitsky contra o Supremo Tribunal Federal, para tentar evitar condenação por ter conduzido golpe de Estado, em 2023, mirando o ministro Alexandre de Moraes.
GUERRA CONTRA A DEMOCRACIA
A guerra de Trump contra o mundo expressa o desespero dos imperialistas americanos diante da falência do império, cujo maior adversário, a China, se aliou à Rússia para desorganizar as bases estruturantes da outrora maior economia do mundo. Impulsionada à sua própria destruição pelas intrínsecas contradições do capitalismo americano, não consegue manter a hegemonia monetária global, derrubada pela financeirização especulativa, que disseminou com o endividamento público gerado pela escalada incontrolável de déficits comerciais explosivos e implosivos.
Neste contexto de desarticulação das forças imperialistas, divididas internamente por discursos de paz e guerra, sem saber em qual deles se firmar, o império, entre inflação e dívida pública incontrolável, sem saída, parte para nova guerra. Enquanto fala em paz para a Ucrânia, mobiliza suas tropas para a guerra contra a Venezuela. Visa incendiar a América Latina – puro desespero imperial para desviar a atenção da população, preocupada com o avanço do desemprego e a queda das atividades econômicas, pré-anunciadas pelos especialistas.
O alvo trumpista é inequívoco: derrubar o nacionalista-socialista Maduro, colocar a ultradireita fascista no poder, rechaçada nas urnas, para garantir acesso ao petróleo venezuelano. Nacionalista, sob comando do PSUV – Partido Socialista Unido da Venezuela –, o país que, segundo a Cepal, mais cresce na América Latina atualmente, à base de 8% ao ano, por reagir ao neoliberalismo que Washington impõe aos demais países latino-americanos, como o Brasil, sufocados por um ajuste fiscal, não pode sobreviver como exemplo de libertação latino-americana.
Maduro mobiliza 4,5 milhões de milicianos nacionalistas-socialistas para defender a pátria. É a nova guerra imperialista em curso na América Latina.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.